RESUMO
O reconhecimento da resistência antimicrobiana como um fenômeno emergente em saúde pública, tem constituído um problema em nível mundial. O abuso na utilização de antibióticos na medicina humana e veterinária, e na agricultura, tem originado incremento na diversidade de micro-organismos resistentes, refletindo em falha terapêutica. Os mecanismos de resistência a antibióticos em micro-organismos são mediados principalmente por genes adquiridos de DNA exógeno. A dinâmica da transferência horizontal é realizada por meio de elementos genéticos móveis que carregam genes de resistência. A ampla distribuição deste tipo de estruturas, como o elemento SXT, isolado inicialmente em V. cholerae, tem contribuído para a disseminação de complexos específicos clonais em determinadas áreas geográficas. Este estudo pioneiro no Brasil pesquisou a presença de elementos SXT, em espécies bacterianas do grupo das gama proteobactérias em espécies ambientais, determinou suas características estruturais e funcionais, incluindo genes de resistência a antibióticos, bem como a sensibilidade aos antibióticos dentre os isolados bacterianos que os abrigam. O resultado foi a classificação de 43 elementos SXT obtidos no Brasil, através da comparação com aqueles descritos na literatura. Dentre os elementos SXT obtidos, quatro são albergados por Morganella morganii, fato inédito na literatura. O conhecimento da evolução bacteriana constitui importante ferramenta para estabelecer estratégias eficazes de controle e tratamento de infecções, sem aumentar a pressão seletiva sobre os micro-organismos, bem como instrumento preciso e de grande importância para subsidiar estudos epidemiológicos.
Recognition of antimicrobial resistance as an emerging phenomenon in public health has been a problem worldwide. The abuse in the use of antibiotics in human and veterinary medicine, and agriculture, has caused an increase in the diversity of resistant microorganisms, reflecting in treatment failure. The mechanisms of antibiotic resistance in microorganisms are primarily mediated by genes acquired from exogenous DNA. The dynamics of the horizontal transfer is performed by mobile genetic elements which carry resistance genes. The wide distribution of these structures, such as the SXT element originally isolated from V. cholerae, has contributed to the spread of specific clonal complexes in certain geographical areas. This pioneering study in Brazil researched the presence of SXT elements in the group of bacterial species in environmental gamma-proteobacteria species, determined their structural and functional characteristics, including genes for resistance to antibiotics and the antibiotic susceptibility among bacterial isolates that harbor them. The result was the classification of 43 SXT elements found in Brazil, by comparison with those found in the literature. Among the SXT elements found, four are sheltered by Morganella morganii, unprecedented in the literature. Knowledge of bacterial evolution is an important to establish effective strategies to control and treat infections without increasing the selective pressure on microorganisms, as well as a precise instrument and very important tool to support epidemiological studies.
Assuntos
DNA Bacteriano , Meio Ambiente , Gammaproteobacteria , Genoma Bacteriano , Resistência Microbiana a Medicamentos/genética , Transferência Genética Horizontal/genética , Adaptação Biológica , Componentes Genômicos , Biologia Molecular , Saúde PúblicaRESUMO
Vibrio parahaemolyticus is a marine bacterium, responsible for gastroenteritis in humans. Most of the clinical isolates produce thermostable direct hemolysin (TDH) and TDH-related hemolysin (TRH) encoded by tdh and trh genes respectively. In this study, twenty-three V. parahaemolyticus, previously isolated from oysters and mussels were analyzed by PCR using specific primers for the 16S rRNA and virulence genes (tdh, trh and tlh) and for resistance to different classes of antibiotics and PFGE. Nineteen isolates were confirmed by PCR as V. parahaemolyticus. The tlh gene was present in 100% of isolates, the tdh gene was identified in two (10.5%) isolates, whereas the gene trh was not detected. Each isolate was resistant to at least one of the nine antimicrobials tested. Additionally, all isolates possessed the blaTEM-116 gene. The presence of this gene in V. parahaemolyticus indicates the possibility of spreading this gene in the environment. Atypical strains of V. parahaemolyticus were also detected in this study.
Assuntos
Ostreidae/microbiologia , Frutos do Mar/microbiologia , Vibrio parahaemolyticus/isolamento & purificação , Animais , Antibacterianos/farmacologia , Proteínas de Bactérias/genética , Brasil , Proteínas Hemolisinas/genética , Testes de Sensibilidade Microbiana , Reação em Cadeia da Polimerase , Vibrio parahaemolyticus/efeitos dos fármacos , Vibrio parahaemolyticus/patogenicidade , Fatores de Virulência/genéticaRESUMO
Vibrio parahaemolyticus is a marine bacterium, responsible for gastroenteritis in humans. Most of the clinical isolates produce thermostable direct hemolysin (TDH) and TDH-related hemolysin (TRH) encoded by tdh and trh genes respectively. In this study, twenty-three V. parahaemolyticus, previously isolated from oysters and mussels were analyzed by PCR using specific primers for the 16S rRNA and virulence genes (tdh, trh and tlh) and for resistance to different classes of antibiotics and PFGE. Nineteen isolates were confirmed by PCR as V. parahaemolyticus. The tlh gene was present in 100 percent of isolates, the tdh gene was identified in two (10.5 percent) isolates, whereas the gene trh was not detected. Each isolate was resistant to at least one of the nine antimicrobials tested. Additionally, all isolates possessed the blaTEM-116 gene. The presence of this gene in V. parahaemolyticus indicates the possibility of spreading this gene in the environment. Atypical strains of V. parahaemolyticus were also detected in this study.
Vibrio parahaemolyticus é uma bactéria marinha, responsável por gastroenterite em humanos. A maioria dos isolados clínicos produzem hemolisina termoestável direta (TDH) e hemolisina TDH-relacionada (TRH) codificadas por genes tdh e trh, respectivamente. Neste estudo, vinte e três V. parahaemolyticus, previamente isolados de ostras e mexilhões foram analisados por PCR utilizando indicadores específicos para o gene 16S rRNA, genes de virulência (tdh, trh e tlh), resistência a diferentes classes de antibióticos, e PFGE. Dezenove isolados foram confirmados por PCR, como V. parahaemolyticus. O gene tlh estava presente em 100 por cento dos isolados, o gene tdh foi identificado em dois (10,5 por cento) dos isolados, enquanto que o gene trh não foi detectado. Cada isolado foi resistente a pelo menos um dos nove antibióticos testados. Além disso, todos os isolados apresentaram resultado positivo para o gene blaTEM-116. A presença deste gene em V. parahaemolyticus indica a possibilidade de propagação desse gene no ambiente. Cepas atípicas de V. parahaemolyticus foram também detectadas neste estudo.
Assuntos
Animais , Ostreidae/microbiologia , Frutos do Mar/microbiologia , Vibrio parahaemolyticus/isolamento & purificação , Antibacterianos/farmacologia , Brasil , Proteínas de Bactérias/genética , Proteínas Hemolisinas/genética , Testes de Sensibilidade Microbiana , Reação em Cadeia da Polimerase , Vibrio parahaemolyticus/efeitos dos fármacos , Vibrio parahaemolyticus/patogenicidade , Fatores de Virulência/genéticaRESUMO
O comércio de peixes e produtos derivados tem crescido substancialmente nas últimas décadas. Contudo, os procedimentos de preparo, de manipulação e de conservação, realizados sem precauções sanitárias, os tornam potencial risco ao consumidor, principalmente aos apreciadores de pratos à base de peixe cru. Foram avaliadas as práticas higiênico-santárias cotidianas realizadas pelos feirantes e a qualidade microbiológica de peixes comercializados em feiras livres. Vinte amostras de peixes foram avaliadas por meio de análises microbiológicas e os dados foram comparados aos aspectos higiênico-sanitários das respectivas feiras livres. Para avaliação dos aspectos sanitários foi utilizado o roteiro baseado em legislação específica, enquanto que as análises microbiológicas foram feitas de acordo com as normas estabelecidas pela ANVISA. Das 20 amostras de pescado, nove (45,0%) foram consideradas impróprias para o consumo de peixe cru em função dos níveis de coliformes termotolerantes e /ou da presença de Escherichia coli e vibrio cholerae não-O1/não-O139. Os resultados surgerem que a manipulação e higiene inadequadas, obsevadas em feiras livres, podem facilitar a transmissão de agentes patogênicos aos consumidores.
Assuntos
Higiene dos Alimentos , Peixes , Saneamento de Mercados , Saúde PúblicaRESUMO
Práticas nutricionais saudáveis e a globalização cultural popularizaram o consumo de pratos à base de peixe cru, anteriormente restritos aos países orientais. Estimativas mostram que as doenças de origem alimentar causam aproximadamente 76 milhões de casos, 325 mil hospitalizações e 5 mil mortes a cada ano, somente nos Estados Unidos. Casos com etiologia desconhecida somam 62 milhões, com 265 mil hospitalizações e 3.200 mortes. O objetivo deste estudo foi investigar a presença de Escherichia coli, Salmonella spp. e Staphylococcus aureus e cepas potencialmente patogênicas de Aeromonas spp. e Vibrio spp. em peixes comercializados em feiras livres da cidade de São Paulo, Brasil. Vinte amostras de peixes, de diferentes espécies, foram adquiridas em feiras livres e analisadas utilizando metodologia convencional para investigação de patógenos em alimentos. Altos níveis de contaminação fecal foram detectados em 25 por cento das amostras. Staphylococcus aureus foi isolado em 10 por cento das amostras, entretanto em valores abaixo do permitido pela legislação brasileira. Todas as amostras estavam negativas para salmonella spp. V. parahaemolyticus não foi isolada, 30 por cento das amostras foram positivas para outras espécies de Vibrio, inclusive Vibrio cholerae não-O1/não-O139. Aeromonas spp., incluindo A. hydrophilia foi isolada em 50 por cento das amostras de peixe. O isolamento de Vibrio cholerae não-O1/não-O139 e Aeromonas hydrophilia, assim como Staphylococcus aureus e Escherichia coli, sugere que peixes comercializados em feiras livres de São Paulo podem representar um risco para os consumidores e ser um importante veículo de transmissão de espécies enteropatogênicas.