RESUMO
RESUMO Este artigo teve como objetivo analisar o cuidado ofertado às crianças com a Síndrome Congênita do Zika, a partir das experiências dos profissionais participantes de um projeto de pesquisa clínica de um hospital público e universitário no estado do Rio de Janeiro. Foi realizado um estudo de caso exploratório, qualitativo, por meio de observação participante e entrevistas semiestruturadas com 11 profissionais de saúde. Os dados foram conduzidos por análise de conteúdo, modalidade temática. Sob a perspectiva do cuidado como uma das dimensões da integralidade em saúde, percebeu-se que os profissionais, em sua maioria mulheres e médicas, são sensíveis às questões das famílias, consideradas também como unidade de cuidado, e reconhecem a diferença no atendimento que prestam ante o modelo biomédico ainda hegemônico na área da saúde. No entanto, apontam seus limites perante uma rede fragmentada e ineficiente. Tais limites parecem inviabilizar uma assistência que acolha as dimensões afetivas e sociais dessas famílias, em especial, das mulheres, legitimadas na centralidade do cuidado de seus filhos. Foi constatada a importância de pensar em uma formação em saúde interdisciplinar, crítica e reflexiva que possibilite um olhar ampliado às vulnerabilidades e necessidades dessas famílias, incluindo uma perspectiva de gênero interseccional que compreenda o complexo processo de determinação social em saúde.
ABSTRACT This article aims to analyze the care offered to children with Congenital Zika Syndrome, from the perspective of professionals at a public and university hospital in the state of Rio de Janeiro. An exploratory, qualitative case study was carried out through participant observation and semi-structured interviews with eleven health professionals. Data were conducted by content analysis, thematic modality. From the perspective of care as one of the dimensions of comprehensiveness in health, we realize that professionals, mostly women and physicians, are sensitive to family issues, also considered as a care unit, and recognize the difference in the care they provide against the biomedical model still hegemonic in the health area. However, they point out its limits at a fragmented and seriously deficient network. Such limits seem to jeopardize care that embraces the affective and social dimensions of these families, especially women, legitimized as the center of caring for their children. The importance of thinking about an interdisciplinary, critical and reflective health education that allows for a broader look at the vulnerabilities and needs of these families, including an intersectional gender perspective that understands the complex process of social determination in health, is noted.
RESUMO
Resumo O objetivo deste ensaio é ampliar o debate acerca das maternidades e do cuidado promovido por mulheres-mães de crianças com a síndrome congênita da zika (SCZ), no contexto atual de pós-epidemia no Brasil, através de uma análise teórica e política, mediada pelo diálogo com a literatura científica na área das Ciências Sociais e Humanas. A partir de um enfoque interseccional, que considera vulnerabilidades e desigualdades sociais, raciais e de gênero, discute-se como essas relações influenciam na organização do cuidado e na construção da maternidade dessas mulheres. Constatamos que as mulheres são as principais cuidadoras da criança, resultado de uma ideologia de maternidade, situada na divisão sexual e social do trabalho no âmbito de uma sociedade capitalista, que impõe responsabilidades e deveres diferentes para mulheres e homens no cuidado e no cuidar, reforçando opressões e explorações. No contexto da infecção congênita, da precarização da vida e do desmantelamento de políticas públicas, há uma sobrecarga de responsabilidades sobre as mães-guerreiras-especiais que podem comprometer seu bem-estar físico e mental, que tanto agrava a situação de desproteção social em que essas mulheres se encontram quanto as impulsionam em busca de coletivos que as fortaleçam como sujeitos políticos e de direitos.
Abstract This essay aims to expand the debate about maternity and care provided by women-mothers of children with congenital Zika syndrome (SCZ), in the current post-epidemic context in Brazil, through a theoretical and political analysis, mediated through dialogue with scientific literature in the area of Social and Human Sciences. From an intersectional approach, which considers social, racial and gender vulnerabilities and inequalities, it discusses how these relationships influence the organization of care and the construction of motherhood for these women. We note that women are the main caregivers of the child, the result of an ideology of motherhood, situated in the sexual and social division of labor within a capitalist society, which imposes different responsibilities and duties for women and men in caring, reinforcing oppression and exploitation. In the context of congenital infection, the precariousness of life and the dismantling of public policies, there is an overload of responsibilities on special warrior-mothers who can compromise their physical and mental well-being, which so much aggravates the situation of social unprotection in which these women meet when they push them in search of collectives that strengthen them as political and rights subjects.
Assuntos
Humanos , Feminino , Mulheres , Poder Familiar/psicologia , Cuidadores/psicologia , Infecção por Zika virus , Mães , Pesquisa QualitativaRESUMO
Apresentam-se resultados parciais de uma pesquisa-ação que investigou a violência de gênero na Estratégia Saúde da Família, com especial atenção sobre as Agentes Comunitárias de Saúde (ACSs), atores estratégicos na atenção a mulheres em situação de violência. Dentre as atividades de pesquisa e intervenção desenvolvidas, incluem-se oficinas com as ACSs para a discussão dialogada dos resultados da pesquisa. Tomando-se como referência os pressupostos da Educação Popular e da pedagogia feminista, conclui-se que as oficinas representaram um valioso recurso político-pedagógico, permitindo uma fecunda interação dialógica entre academia e serviços de saúde e oferecendo visibilidade e reconhecimento às vozes e às ricas experiências de vida e trabalho das ACSs contribuindo, assim, para uma construção compartilhada do conhecimento que fortalece práxis comprometidas com transformações na assistência à saúde e nas relações sociais mais amplas...
Partial results of an action research that investigated gender violence in the Family Health Program are presented. Special attention was given to the Community Health Agents, considered as strategic actors in the assistance provided for women who are involved in violent relationships. Among the research and educational activities that were developed, workshops were held to discuss research results with the Community Health Agents. Taking popular education and feminist pedagogy as conceptual premises, we concluded that the workshops represented a useful political-pedagogic resource that facilitated a fertile dialogue between academia and health services. In addition, they offered visibility and recognition to the Community Health Agents voices and also to their rich life and work experiences, contributing to a collective construction of knowledge that strengthens a praxis committed to transformations in health assistance and in the broader social relations...
Se presentan resultados parciales de una investigaciónacción sobre la violencia de género en la Estrategia Salud de la Familia, con atención especial sobre las Agentes Comunitarias de Salud (ACS), actores estratégicos en la atención a las mujeres en situación de violencia. Entre las actividades desarrolladas se incluirán talleres con ACS para la discusión de los resultados de la encuesta. Tomando como referencia los supuestos de la educación popular y de la pedagogía feminista, se concluye que los talleres representaron un valioso recurso político-pedagógico que permitió una fecunda interacción dialógica entre el sector académico y los servicios de salud. Proporcionó visibilidad y reconocimiento a las voces y ricas experiencias de vida y trabajo de las ACS y contribuyó para una construcción compartida del conocimiento que fortalece praxis comprometidas con transformaciones en la asistencia a la salud y en las relaciones sociales más amplias...
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Educação da População , Educação em Saúde , Pessoal de Saúde , Violência contra a MulherRESUMO
A violência entre parceiros íntimos é um problema de saúde pública, mas, em geral, a integração da atenção a esta complexa problemática social é insatisfatória na formação e na atenção em saúde. Essa situação é examinada neste artigo, com base em evidências e questões levantadas na literatura. Nas experiências internacionais, constatou-se que a busca ativa dos casos nos serviços é priorizada, porém encontra dificuldades na institucionalização das rotinas e sistematização da capacitação desde a educação inicial. No contexto brasileiro, o pouco conhecimento sobre o assunto entre estudantes e profissionais de saúde foi sinalizado, sendo que a incorporação da normatização da assistência à violência sexual dá visibilidade ao despreparo das equipes. As conclusões ratificam limites da formação em saúde baseada no modelo biomédico e do processo de trabalho centrado na figura do médico. Recomenda-se a "problematização" da VPI via processos de ensino-aprendizagem que valorizem saberes e experiências dos educandos e garantam espaços coletivos de discussão, com apoio da incorporação dos referenciais das Ciências Humanas e Sociais nos currículos médicos e de mudanças na educação médica orientadas pela integralidade e intersetorialidade das ações.
Although intimate partner violence is a public health problem, attention to this complex social issue is not usually adequately integrated into medical training and health care. This article examines the question based on evidence and issues raised in existing literature. International experiences reveal that active screening of cases of violence in health services has been prioritized, but difficulties occur in both the institutionalization of routines and systematization in academic training. In Brazil, the lack of knowledge on this subject among students and professionals has been noted, while incorporating standards for sexual violence care has exposed the unpreparedness of the health teams. The findings confirm the limits of biomedical model-based training and doctor-centred work processes. Recommendations include the 'critical questioning' of the IPV problem in teaching-learning processes that incorporate views and experiences of students, ensuring collective discussion spaces supported by the integration of references from Human and Social Sciences in medical curricula and a shift in focus toward comprehensive care and inter-sectorial actions.
Assuntos
Humanos , Currículo/tendências , Educação Médica , Educação Profissional em Saúde Pública , Capacitação de Recursos Humanos em Saúde , Maus-Tratos Conjugais/prevenção & controleRESUMO
Este artigo apresenta resultados parciais de entrevistas semiestruturadas realizadas com 23 profissionais de saúde de uma maternidade pública, no contexto de um projeto de pesquisa-ação implantado para promover a identificação e o acolhimento de mulheres que sofrem violência na gravidez. As percepções sobre as relações de gênero e sobre a violência, nas suas vidas particulares e profissionais, incluíram tanto os possíveis sinais de violência apontados no comportamento de pacientes e familiares nas consultas e contatos, quanto as barreiras, possibilidades e condições necessárias para abordarem o assunto na rotina hospitalar. Observamos que suas visões foram ampliadas na entrevista individual e nas discussões coletivas subsequentes, num processo de 'visibilidade construída' que apontou as raízes sociais complexas da violência, bem como os limites e as responsabilidades profissionais apropriadas à situação vivida pelas pacientes e às condições de trabalho desses profissionais.
This article presents preliminary results of semi-structured interviews with 23 healthcare professionals from a public maternity hospital, in the context of an action research project which aimed at promoting the identification of women who suffer violence during pregnancy, and at organizing a routine to support them. The perceptions of gender relations and violence in their personal and professional lives included possible signs of violence which emerge in the consultations and contacts with the patients, and the barriers, possibilities, and necessary conditions for including this question in the hospital routine. We observed that their views were broadened during the interviews and during the subsequent group discussions, in a process of 'constructed visibility' which indicated both the complex social sources of violence and the professional limits and responsibilities that are appropriate to the life situation of their patients and to the working conditions of these professionals.
Este artículo presenta los resultados parciales de entrevistas semi-estructuradas realizadas con 23 profesionales de salud de una maternidad pública en el contexto de un proyecto de investigación-acción implantado para promover la identificación y el cuidado de la salud de mujeres que sufren de violencia durante el embarazo. Las percepciones sobre las relaciones de género y la violencia, en sus vidas particulares y profesionales, incluyeron las posibles marcas de violencia señalados en el comportamiento de pacientes y de sus familiares durante las consultas, así como las barreras, posibilidades y condiciones necesarias para afrontar el asunto en la rutina del hospital. Observamos que sus visiones fueron ampliadas a través de la entrevista individual y en las discusiones colectivas subsecuentes en un proceso de "visibilidad construida" que a señala las raíces sociales de la violencia y responsabilidades profesionales apropiadas a la situación de las pacientes y las condiciones de trabajo de estos profesionales.
Assuntos
Humanos , Masculino , Feminino , Adulto , Pessoa de Meia-Idade , Identidade de Gênero , Pessoal de Saúde , Serviços de Saúde , Gravidez , Prática Profissional , Violência contra a MulherRESUMO
Estudo de base qualitativa que discute definições relacionadas ao fenômeno da violência contra mulheres desde uma abordagem relacional de gênero e sexualidade. Aponta incidência e gravidade da violência praticada por homens contra mulheres, em especial nas relações de conjugalidade, problema complexo que faz interagir paradigmas da saúde pública e de direitos humanos. Diante das estatísticas nacionais constata a invisibilidade e escassez de produção acadêmica referentes às queixas femininas sobre a violência sexual, tanto aquela perpetrada no âmbito público( estupro por desconhecido) como privado (coerção e/ou violência sexual marital) .Toma como desafio compreender em que medida estereótipos baseados em gênero, aliados às condições estruturais existentes, banalizariam ou impediriam a visibilidade da violência sexual, especialmente nas relações de conjugalidade.Foram realizadas 12 entrevistas com mulheres em situação violência conjugal violenta e mulheres que viveram a violência sexual perpetrada por homem desconhecido, do tipo estupro. A relação sexual não consentida no casamento não tomou diretamente a conotação de violência, já o estupro cruento foi comparado à uma morte. Em alguns pontos, as duas experiências sexuais se assemelharam : ter nojo da relação, se lavarem imediatamente, perderem o desejo sexual , correrem riscos de uma gravidez indesejada e de contraírem Ist. Conclui que o estupro conjugal banalizou-se, contando com respaldo social do sexo como dever conjugal. O fenômeno da violência conjugal, situado nas relações interpessoais, é remetido ao contexto estrutural. O tradicional controle masculino baseado em seu papel de provedor está em xeque e a resistência à sua transição, tanto por parte do parceiro como da parceira, radicaliza conflitos e colabora para a ocorrência da violência, inclusive sexual, entre o casal. A revisão dos contratos conjugais e retomada da reciprocidade, do ponto de vista relacional-estrutural, precisaria contar com a participação dos dois gêneros e de melhores condições sociais e econômicas para homens e mulheres. A atenção integral à violência sexual implicaria na intersetorialidade e interdisciplinaridade entre políticas públicas de atenção à violência doméstica e violência sexual.