RESUMO
O presente estudo apresenta os resultados da pesquisa cujo propósito foi o de investigar a influência da fidelidade à palavra empenhada nos julgamentos morais feitos por escolares. Adotamos o referencial teórico piagetiano, acerca da Psicologia da moralidade humana, e o da teoria dos valores. Quanto ao método, utilizamos 186 informantes de ambos os sexos, com idade de seis, nove e doze anos, de nível sócio-econômico desfavorecido e freqüentadores de escolas públicas. Empregamos, como instrumento de coleta de informações, nove historietas, que confrontaram a fidelidade a três contextos morais (furto, mentira e generosidade). As informações possibilitaram, dentre outros, os seguintes resultados: a idade não interfere nos julgamentos; há predomínio de uma visão moral mais circunscrita ao universo masculino e outra ao feminino; os julgamentos não se subordinam ao tipo de envolvimento entre os personagens (é indiferente o fato de eles serem irmãos, amigos ou colegas); o "raciocínio moral" é influenciado pela natureza do conteúdo envolvido; a manutenção da fidelidade, quando confrontada com a prática de um ato censurável (assim como a infidelidade), produz conseqüências negativas para os relacionamentos interpessoais; a maioria dos escolares optam mais pela ética da justiça. Acreditamos que tal posição não decorre de um raciocínio moral mais desenvolvido - como o de que a desonestidade prejudica o outro e inviabiliza a confiança mútua. Tanto a opção pela fidelidade à palavra quanto pela honestidade, veracidade e generosidade são escolhas decorrentes de uma moral heterônoma