RESUMO
Este trabalho, o qual foi dividido em três estudos, teve por objetivo analisar aspectos comportamentais e clínicos da cárie dentária em crianças de 0 a 48 meses de idade, atendidas em programas públicos de Odontologia para Bebês. O primeiro estudo foi um coorte observacional prospectivo, com duzentas crianças participantes de dois dos programas, as quais foram divididas em dois grupos: G1, bebês que ingressaram no programa durante o primeiro ano de vida (n=126), e G2, bebês que ingressaram no programa entre 13 e 18 meses de idade (n=74). Essas crianças foram examinadas a cada três meses até completarem 48 meses de vida, por meio de exame clínico em consultório odontológico, além de terem sido aplicados questionários aos responsáveis para a análise dos hábitos e comportamentos das crianças e seus responsáveis. Foram correlacionadas a incidência de cárie dentária/idade da criança com as variáveis assiduidade as consultas, dieta cariogênica, higiene oral diária, higiene oral noturna e aleitamento noturno. No segundo e no terceiro estudo, participaram quatrocentas e sessenta e cinco crianças de 3 programas de atendimento odontológico precoce. As amostras foram divididas em 3 grupos: G0 - bebês cujas mães ingressaram no programa quando gestantes (n=50), G1 - bebês que ingressaram no programa durante o primeiro ano de vida (n=230), e G2 - bebês que ingressaram no programa entre 13 e 18 meses de idade (n=185). Foi realizado exame clínico pelo método táctil e visual, por um único operador calibrado (k>0,8), e aplicado um questionário aos responsáveis para a análise dos hábitos de dieta, higiene diária e noturna, duração de aleitamento noturno, escolaridade dos pais/responsáveis, condição socioeconômica, comportamento durante tratamento caseiro e profissional e idade de irrompimento do primeiro dente. Os dados coletados foram tabulados e submetidos à análise estatística com nível de significância de 5%. No estudo 1, os testes Qui-Quadrado e exato de Fisher foram utilizados, além das análises de sobrevivência univariada (Kaplan-Meier) e multivariada (Cox), com 95% de intervalo de confiança. Os resultados demostraram associação entre incidência de cárie dentária/idade da criança e fator assiduidade em ambos os grupos (p<0,001) e entre cárie dentária e grupo (idade da criança) (p<0,001). O fator de risco de cárie de G2 (R=0,410) foi 3,9 vezes maior do que G1 (R=0,104). Amamentação noturna aumentou em 2,43 vezes o risco de desenvolvimento de cárie dentária em G1 e G2. Houve correlação entre higiene oral noturna e dieta cariogênica com cárie dentária em todos os grupos. Encontrou-se probabilidade de 90% de uma criança do G1 ser livre de cárie dentária até os 4 anos de idade. No G2 esta probabilidade foi de 59% após os 3 anos de idade. No segundo estudo, os dados coletados foram submetidos aos testes Qui-Quadrado e Kruskal-Walis. Observou-se que houve associação entre idade de ingresso no programa e cárie dentária (p<0,001), sendo a menor prevalência para G0 e G1. Encontrou-se também associação entre idade de ingresso nos programas e assiduidade às consultas (p<0,001), dieta cariogênica (p<0,001), higiene oral noturna (p<0,001), duração de aleitamento noturno (p<0,001), escolaridade materna/responsável (p=0,004), comportamento durante tratamento caseiro (p=0,013) e profissional (p<0,001). Condição socioeconômica desfavorecida (p>0,05) e presença de higiene oral diária (p=0,214) corresponderam a 99% dos grupos e ocorreram independente dos mesmos. No terceiro estudo foram utilizados os testes Qui-quadrado para a comparação de proporções e o de Mann-Whitney na comparação de medidas numéricas. Observou-se os mesmos resultados do segundo estudo para as variáveis condição socioeconômica e higiene oral diária. Além disso, foi calculado Odds ratios (OR) e ajustados pela regressão logística, acompanhados de intervalos de confiança de 95%. As variáveis assiduidade, a presença de higiene oral noturna e escolaridade materna/responsável acima de 8 anos de estudo apresentaram OR entre 0 e 1, indicando fatores de proteção à cárie dentária. A presença de dieta cariogênica e o aleitamento noturno apresentaram OR maior do que 1, indicando fatores determinantes da cárie dentária. O comportamento das crianças durante tratamento em consultório e tratamento caseiro apresentaram-se associados com cárie dentária (p<0,05), sendo o comportamento negativo considerado fator determinante da doença. A variável idade do irrompimento do primeiro dente (mediana=8 meses) não mostrou associação com experiência de cárie dentária (p=0,922). Concluiu-se que é essencial para promoção da saúde oral infantil, o ingresso precoce das crianças em programas preventivos para a orientação dos pais, os quais representam fatores de proteção da cárie dentária, assim como o comportamento positivo das crianças e seus familiares durante o atendimento odontológico
The aim of this research was to analyze the behavioral and the clinical aspects of dental caries in children from 0 to 48 months, who attended a dental care preventive government program in the State of São Paulo, Brazil, named 'Dentistry for babies'. The research was divided in three studies. The first study was a prospective observational cohort study, with two hundred children participants in the program, who were assigned into two groups: G1 - children that joined the program during the first year of life (n=126); and G2 - children that joined the program between 13 and 18 months (n=74). In this study, the children were examined every three months until they were 48 month old. Dental caries incidence/children's age was statistically correlated to assiduity, cariogenic diet, day/night oral hygienic and night breastfeeding variables. The data were analyzed using the Chi-Square and Fisher's tests. Survival univariate (Kaplan-Meier) and multivariate (Cox) analysis were carried out, with 5% significant level. The second and third studies evaluated 465 children including the 200 who participated in the cohort study. The children were assigned into three groups: G0 babies whose mothers joined the program when still pregnant (n=50); G1 babies that joined the program during the first year of life (n=230); and G2 children that joined the program between 13 and 18 months (n=185). The data was collected through tactile and visual clinical examination by a calibrated investigator (k>0.8). The parents also answered a questionnaire including questions about the children's diet habits, day and night hygienic habits, night feeding habits, parents' education level, social economical condition, and children's behavior during home and professional treatment. The collected data were tabulated and submitted to statistical analyses specific for each study with 5% significance level. In first study, it was found an association between dental caries incidence and the influence of the assiduity factor for both groups (p<0.001) and between dental caries and group (p<0.001). The dental caries risk factor of G2 (R=0.410) was 3.9 times greater than G1 (R=0.104). Night feeding increased in 2.43 times the risk of developing dental caries in G1 and G2. There was a correlation between night oral hygiene and cariogenic diet in all groups. It was found a 90% probability of a children from G1 be caries free till four years of age. On the other hand, the probability for children from G2 to be free of caries is 59% after three years of age. It was also found a high correlation between the children's age when joining the program and the incidence of dental caries. In the second study, the data collected were tabulated and submitted to the Chi-Square and Kruskal-Walis, with 5% significant level. It was observed from the results that there was an association between group and dental caries (p<0.001), being the smaller prevalence for G0 and G1. Similarly, it was found association between the children's age when joining the program with assiduity (p<0.001), cariogenic diet (p<0.001), oral night hygiene (p<0.001), duration of night feeding (p<0.001), parents' educational level (p=0.004), behavior during home treatment (p=0.013), and professional treatment (p=0.001). Low socio-economic background (p>0.05) and day oral hygiene (p=0.214) were common variables in the groups with 99% of occurrence. In the third study were used: the Chi-Square test to compare the proportions and the Mann-Whitney test to compare the numerical measures. The results for the socio-economic conditions and day oral hygiene were similar to the ones observed in the second study. Gross odds ratio was calculated and adjusted by the Logistic regression with a 95% confidence interval. Assiduity, presence of night oral hygiene and parents' level of education variables presented OR between 0 and 1, indicating them as dental caries protection factors. A cariogenic diet and night feeding variables had OR bigger than 1, indicating these variables as determinant dental caries factors. The children's behavior through out the treatment, at home or at the office, was associated with dental caries (p<0.05). The age of the first tooth eruption (mean average = 8 months of age) was not associated with dental caries (p=0.922). We concluded that parents' compliance and children's age when joining the program, which represent dental caries protection factors, along with the children and parents' positive behavior during the treatment period, are essential to promote oral health and the prevention of dental caries