RESUMO
INTRODUÇÃO e OBJETIVOS: Os astrocitomas anaplásicos (AAs) são gliomas classificados como grau III pela OMS, constituindo um grupo intermediário de agressividade e uma zona cinzenta na atuação clínica e interpretação histológica. Além disso, o material obtido nas neurocirurgias muitas vezes é pouco representativo, seja por amostras exíguas, seja por amostragem da periferia da lesão. Metodologias como imuno-histoquímica, hibridização in situ e/ou sequenciamento tem sido amplamente utilizadas para analisar a expressão e a validação de marcadores biológicos de agressividade, reclassificar as entidades e avaliar as vias de tumorigênese, com o intuito também de direcionar a terapêutica. Nos gliomas, algumas alterações moleculares têm sido pesquisadas, como em IDH1, alfa-internexina (INA), EGFR, MGMT e nos cromossomos 1p/19q, sem caracterização precisa nos AAs. O presente estudo pretendeu avaliar tais alterações moleculares em material parafinado e correlacionar com dados clínicos e anátomo-patológicos. MATERIAL E MÉTODOS: Estudamos 22 casos de AA, com diagnóstico histopatológico confirmado por 2 patologistas. Os dados clínicos e demográficos (idade, gênero, localização, KPS ao diagnóstico, dimensão e tratamento utilizado) foram obtidos dos prontuários. A pesquisa de expressão de IDH1, INA e MGMT foi realizada por imuno-histoquímica (IHQ). A determinação do estatus 1p/19q foi realizada por FISH. A pesquisa do gene EGFR e sua expressão proteica foi realizada pelos 2 métodos (IHQ e FISH). RESULTADOS: Os pacientes incluídos neste estudo apresentaram média de idade de 41,7 anos, sendo 14 mulheres e 8 homens. A maioria dos casos era de localização intracerebral. 13 casos foram considerados "de novo" (primários) e 9 provenientes de recidivas de astrocitomas difusos. Terapia adjuvante foi realizada em 20 pacientes, sendo que em 14 pacientes a radio (RT) e a quimioterapia (QT) foram concomitantes, em 3 casos foram tratados exclusivamente com QT e 3 exclusivamente com RT. A positividade para IDH1 (R132H) foi identificado em metade dos casos. A positividade forte e de membrana para EGFR foi identificada em 4 casos. A positividade para MGMT foi identificada em praticamente todos os casos. Não foi observado nenhum caso de codeleção 1p/19q, mas 9 casos apresentaram ganhos de 1p e 7 casos ganhos de 19q. Não foi identificada positividade para INA. Foi observada associação entre ressecção cirúrgica parcial, amplificação e expressão imuno- histoquímica forte e padrão membrana de EGFR, imunonegatividade para IDH1-mutado, ganho de 19q e ausência de terapia adjuvante como fatores associados à redução da taxa de sobrevida global. Assim, status de EGFR, IDH1 e 19q, tipo de cirurgia e tratamento adjuvante parecem ser fatores prognósticos em AAs.
INTRODUCTION and AIMS: Anaplastic astrocytomas (AAs) are classified as grade III gliomas by WHO, constituing an intermediate group of malignancy and a gray zone for clinical management and histological interpretation. In addition, through technical difficulties, the material obtained from neurosurgery is often suboptimal, either by too small samples or by sampling the periphery of the lesion. Immunohistochemistry, in situ hybridization and / or sequencing has been widely used to analyze the biomarkers expression and validation, to predict aggressiveness, reclassify and evaluate tumorigenesis pathways and guide the therapeutics. In gliomas, some molecular alterations have been researched, such as IDH1, alphainternexin (INA), EGFR, MGMT and status 1p / 19q, without precise characterization in AAs. This study aimed to evaluate such molecular changes in paraffin embedded material and correlate with clinical and pathological data. MATERIALS AND METHODS: We studied 22 cases of AA, with histopathological diagnosis confirmed by two pathologists. Clinical and demographic data (age, gender, tumor location, KPS at diagnosis, size and treatment used) were obtained from medical records. IDH1 (R132H), INA and MGMT expression were evaluated by immunohistochemistry (IHC). The determination of the status 1p / 19q was evaluated by FISH. The number of EGFR gene copies and its protein expression were obtained by both methods (IHC and FISH). RESULTS: The patients included in this study had a mean age of 41.7 years, being 14 women and 8 men. Most cases were intracerebral. 13 cases were considered "de novo" (primary) and 9 relapses from diffuse astrocytomas. Adjuvant therapy was performed in 20 patients: 14 had radio (RT) and chemotherapy (CT) simultaneously, 3 were treated exclusively with CT and 3 exclusively with RT. Immunopositivity for IDH1 (R132H) was identified in half of the cases. The strong and membrane pattern positivity of EGFR was identified in 4 cases. The positivity for MGMT was identified in virtually all cases. There were no cases of 1p / 19q codeletion, but 9 cases showed gains of 1p and 7 had 19q gains. None case was positive for INA. Association was observed between partial surgical resection, amplification and strong membrane pattern EGFR imunoexpression, imunonegativity for IDH1-mutated, 19q gain and absence of adjuvant therapy as factors associated with reduced overall survival rate. Thus, status of EGFR, IDH1 and 19q, extension of surgery and adjuvant treatment appear to be prognostic factors in AA.