RESUMO
Resumo Corpos e territórios múltiplos vivenciam de diferentes formas impactos, conflitos e injustiças socioambientais. As consequências do padrão de acumulação neoextrativista recai de modo diferenciado sobre as mulheres, em especial não brancas. Esse texto traz narrativas de mulheres plurais, que vivem em diferentes territórios e que experienciam distintos impactos de grandes empreendimentos. Por meio de suas narrativas, buscamos compreender como constituem seus corpos-territórios, como são impactados e como resistem a dominação colonialista, defendem a vida e restituem a saúde. Os impactos analisados atingem os meios e modos de vida das mulheres, cerceiam suas formas de ser, poder e saber nesses territórios, tornam-nas vulnerabilizadas, sujeitas à precarização dos meios e modos de vida, imersas em intoxicações sistêmicas, chegando a situações classificadas como genocídios. Frente a tais ameaças, elas agenciam a resistência coletiva, acionam o que lhes torna subjetividade ativa, descolonizam-se como ser, saber e poder. Assim defendem a vida e restituem a saúde de si mesmas e de seus ambientes. Essas experiências apontam caminhos para o fortalecimento de perspectivas e redes de vigilância popular em saúde.
Abstract Multiple bodies and territories experience impacts, conflicts, and socioenvironmental injustices in different ways. The consequences of the neoextractivist accumulation patterns weigh differently on women, especially non-white women. This text brings narratives of a wide range of women who live in different territories and experience different impacts from major undertakings. Through their narratives, we seek to understand how they constitute their territorial bodies; how they are impacted; and how they resist colonialist domination, defend life, and restore health. These impacts affect women's means and ways of life, and restrict their ways of being, power, and knowledge in these territories, rendering them vulnerable, subject to the precariousness of life, immersed in systemic intoxication, reaching situations classified as genocide. Faced with such threats, they manage collective resistance; trigger what makes them active subjectivity; and decolonize themselves as beings, knowledge, and power. In this way they defend life and restore their health and that of their environments. These experiences indicate ways to strengthen public health surveillance perspectives and networks.
RESUMO
A pandemia COVID-19 ao colocar o corpo em ameaça trouxe à baila muitos conflitos, descortinando o caráter excludente do qual fomos fundados como corpo/sociedade. A produção de milhares de corpos mortos no mundo, suscita no Brasil um plano de emergência de afastamento físico, e nos força como sociedade outros modos de existir. O corpo é provavelmente o substrato mais explorado de pertinência à vida. O modelo de estudá-lo mais usual, foi estruturado pela disciplina de Anatomia, uma coordenação descontínua entre ele e seu aprendizado. As ciências biomédicas são, portanto grandes difusoras da forma de se aprender corpo na sociedade ocidental e suas profissões o têm como objeto de sua gestão. Nesse sentido o capital simbólico de colonialidade o pressupõe de uma com-formação social desprovida de qualquer espaço para subjetividade, embora cada ser vivo aprenda sobre o corpo de uma ou de outra forma segundo o modo que a vida, ou ele a concebe. Essa pesquisa multi-situada por estudos corporais escreviventes se propõe refletir sobre outras formas de aprender pelo corpo enquanto ele se reinventa como protagonista auto-formativo durante a sindemia produzida pela COVID-19.
The COVID-19 pandemic, by putting the body under threat, brought up many conflicts, revealing the excluding character of which we were founded as a body/society. The production of thousands of dead bodies in the world, raises in Brazil an emergency plan of physical removal, and forces us as a society other ways of existing. The body is probably the most explored substrate of pertinence to life. The most usual model of studying it was structured by the discipline of Anatomy, a discontinuous coordination between him and his learning. The biomedical sciences are, therefore, great diffusers of the way of learning the body in western society and their professions have it as an object of their management. In this sense, the symbolic capital of coloniality presupposes a social conformation devoid of any space for subjectivity, although each living being learns about the body in one way or another according to the way life, or the body, conceives it. This multi-sited research by writing body studies proposes to reflect on other ways of learning through the body as it reinvents itself as a self-training protagonist during the syndemic produced by COVID-19.