RESUMO
O uso de drogas feito por psicóticos tem alta prevalência e piora o prognóstico do paciente. O estudo deste consumo e da associação das comorbidades mostra-se, portanto, de extrema importância. Alimentado por esta intenção, o presente trabalho procura compreender a função da droga na psicose através de entrevistas que compararam a drogadicção de psicóticos com a drogadicção feita por sujeitos sem este diagnóstico. Embasado na psicanálise lacaniana, a pesquisa discute a possibilidade de a dependência química acontecer nas diversas estruturas clínicas defendidas por esta teoria, a saber: neurose, perversão e psicose, excluindo a hipótese de importantes autores que consideram a toxicomania sinal de perversão. Discorrendo sobre a noção de comorbidade psiquiátrica, o trabalho segue através da apresentação de hipóteses etiológicas que explicam as diferentes maneiras de compreender a coincidência de doenças psiquiátricas com a dependência química. Por fim o trabalho adota a hipótese da automedicação e procura entender sua particularidade no caso de uso de drogas na psicose. As entrevistas com os psicóticos permitem concluir que seu encontro com a droga acontece via espelhamento ou errância psicótica, o que abre espaço para pensar no prognóstico da comorbidade, que é pior quando a droga passa a fazer parte do delírio. Uma vez constatado que as relações do psicótico perpassam pela colagem no outro, o trabalho sobre as referências imaginárias do paciente aparece como direção do tratamento do uso de drogas na psicose, sendo a prevenção e o cuidado com a medicação antipsicótica possíveis aliados desta intervenção. Ainda que a pesquisa defenda funcionamentos próprios de cada estrutura clínica e a relevância disso para o tratamento dos diferentes dependentes químicos, também considera a idéia da drogadicção como montagem sintomática que abarca diferentes elementos para cada pessoa