RESUMO
A "humanização dos serviços de saúde" é um tema muito recorrente na atualidade. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014, o modelo educacional do curso de Medicina deve formar um profissional com perfil mais humanista, crítico e reflexivo. Nota-se que algumas instituições estão inserindo em seus currículos e em ações complementares atividades que utilizam arte, a fim de sensibilizar os estudantes. Neste cenário, destaca-se a palhaçaria realizada em hospitais e instituições filantrópicas por estudantes de diversos cursos na área da saúde, baseando-se no modelo realizado por artistas profissionais e voluntários. Objetivos: avaliar o efeito da experiência com palhaçaria na vida de estudantes de Medicina e identificar quais foram as mudanças na sua vida pessoal e acadêmica. Materiais e meÌtodos: estudo qualitativo e fenomenológico, realizado por meio de entrevistas semiestruturadas e observação direta não participante, com estudantes de Medicina que participavam do projeto de extensão Doutores Só Risos da Universidade José do Rosário Vellano, em Belo Horizonte. A amostra foi intencional, com 13 voluntaÌrios. Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo baseada na categorização proposta por Bardin. Todos os voluntaÌrios assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da inclusão no estudo. Resultados: os alunos demonstraram muito interesse pela palhaçaria, pois viram, nesta atividade, a oportunidade de ajudar as pessoas a enfrentarem alguma situação de vulnerabilidade, como doença ou problema social, levando alegria e conforto aos pacientes. Destacaram, ainda, que a palhaçaria os permitia ter contato precoce com pacientes internados, pois na graduação esse contato é mais tardio. Foi observado, também, que a palhaçaria promoveu modificações na vida dos alunos, pois os ajudou a melhorar a forma de se comunicar, além de diminuir a timidez. Eles disseram, ainda, que passaram a dar mais valor à própria vida depois que vivenciaram problemas diferentes da sua realidade. Em relação à graduação, os estudantes ressaltaram a melhora na relação com o paciente, pois passaram a escutá-los mais, melhoraram a empatia e passaram a ver o outro em todo o seu aspecto biopsicossocial. ConclusoÌes: Foi possível concluir que a inserção de atividades ligadas à arte, com destaque para a palhaçaria, tem muito potencial para promover mudanças de atitudes e comportamentos nos estudantes de Medicina, contribuindo, também, para desenvolver competências necessárias para maior humanização do atendimento médico
"Health Services Humanization" is presently a very recurrent topic. According to 2014 Brazilian National Curricular Guidelines, the educational model for Medical Schools should aim toward a more humane, critical and thoughtful professional. Some institutions include in their curricula complementary actions using arts so as to sensitize students. In this scenario, clowning stands out, performed in philanthropic institutions and hospitals by students from various health-related arias, based on models performed by professional and voluntary artists. Aims: to assess the effect of the experience with clowning in the lives of medical students and identify changes in their personal and academic lives. Materials and methods: Qualitative and phenomenological studies, performed by means of semi-structured interviews and non-participating direct observation, with medical students taking part of the Doutores Só Risos ("All-Laughter Doctors") extension project of Universidade José do Rosário Vellano, in Belo Horizonte, state of Minas Gerais, southeastern Brazil. 13 volunteers were chosen as samples. The data had their contents analyzed using Bardin's proposed categorization. All volunteers signed an Informed Free Consent Term before their inclusion in the project. Results: students showed great interest in clowning, as they saw in this activity an opportunity to help people face a vulnerability situation, such as illness or social problem, bringing joy and comfort to such patients. Another noteworthy result pointed toward clowning allowing a precocious contact with committed patients, as this contact during medical studies normally comes at a later stage. Clowning also brought about changes in students' lives, as it helped them improve their communication styles, in addition to overcoming shyness. They also stated they valued life itself more after experiencing problems from realities differing from their own. Regarding the undergraduate curriculum, students showed improvement in their relation towards patients, as they started listening more, improving empathy, as they then began to see the other, i.e., the patient, inside a whole biopsychosocial aspect. Conclusions: Inserting activities connected to arts, focusing on clowning, presented great potential to bring about changes in attitudes and behaviors for medical students, contributing also to develop necessary competences for a more humane medical care