RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar o idealismo transcendental (e o realismo empírico) como uma semântica transcendental, que permite resolver problemas cognitivos da ciência e decidir sobre problemas filosóficos, por meio de novos argumentos e documentos textuais da filosofia kantiana. Para tal fim, mostraremos que a pergunta fundamental que aparece em todo o percurso da obra kantiana é a da possibilidade das proposições sintéticas. Essa pergunta demanda o desenvolvimento de uma resposta que essencialmente diz respeito não apenas a sua necessidade e possibilidade lógica, mas também a sua exequibilidade, e que mostrará suas peculiaridades em cada caso. Especificamente na primeira crítica, as condições ou ingredientes do juízo permitem distinguir entre fenômenos como objetos de conhecimento e coisas em si mesmas. Assim, o idealismo transcendental é definido, no sentido restrito, na crítica da razão pura, basicamente, pelo modo de interpretar o papel da sensibilidade em relação com as categorias e a constituição dos objetos de conhecimento. Esta posição filosófica permite a Kant propor um campo de sentido onde formular e resolver problemas cognitivos válidos e, portanto, resolver os problemas que a própria razão se impõe, bem como fazer uma refutação ao idealismo (material), tanto problemático quanto dogmático. Assim, provaremos que o problema da cognoscibilidade dos objetos se resolve em Kant em termos decididamente semânticos.
The aim of this paper is to show the transcendental idealism (and empirical realism) as transcendental semantics, which allows us to solve cognitive problems in science and to decide on philosophical problems through new arguments and textual documents of Kantian philosophy. To this goal, we will show that the fundamental question that appears throughout the course of the Kantian work is the question of the possibility of synthetic propositions. This question calls for the development of an answer that essentially concerns not only its necessity and logical possibility, but also its feasibility, and which will show its peculiarities in each case. Specifically, in the first criticism, the conditions or ingredients of judgment allow us to distinguish between phenomena as objects of knowledge and things in themselves. Thus transcendental idealism is defined, in the narrow sense, in the critique of pure reason, basically, by the way of interpreting the role of sensibility in relation to the categories and constitution of the objects of knowledge. This philosophical position allows Kant to propose a field of meaning in which to formulate and solve valid cognitive problems and, therefore, to solve the problems that reason itself imposes, as well as to refute the (material) idealism, both problematic and dogmatic. Thus we will prove that the problem of know objects is solved in Kant in decidedly semantic terms.
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar a hipótese de leitura do lugar sistemático da natureza humana na obra de Kant como elemento operador de regras (sujeito) e como objeto sui generis de aplicação de regras práticas. Assim, mostraremos que a pergunta pela possibilidade dos juízos sintéticos, as quatro perguntas kantianas e o esboço do sistema da filosofia transcendental em Opus Postumum ordenam sistematicamente a filosofia transcendental.
The aim of this paper is to show the hypothesis of reading the systematic place of human nature in Kant's work as a rule operator (subject) and as a sui generis object of practical rules. We will show that the question of the possibility of synthetic judgments, the four Kantian questions, and the outline of the system of transcendental philosophy in Opus Postumum systematically order transcendental philosophy.
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar uma interpretação da psicanálise (Freud-Lacan) como experiência ética. Para alcançar tal fim, primeiro, mostraremos os limites de uma psicanálise entendida como ciência, indagaremos sua especificidade e interrogaremos o que compreende a sua eficácia. Em segundo lugar, articularemos os conceitos fundamentais da teoria e da prática psicanalítica (lei e desejo) não como elementos de um modelo explicativo de fenômenos naturais senão como condição de possibilidade de uma experiência do sujeito com seu próprio desejo e com as interdições que o constituem. Nesse ponto abordaremos as noções de natureza e de ideal. Será preciso ainda especificar as noções de experiência e de ética, já que a primeira não será usada no sentido de experiência perceptiva ou cognitiva, e a segunda não se referirá a um princípio ou regra ou conjunto de princípios ou regras de determinação de ação que procuram a realização ou conquista de um bem. Finalmente, concluiremos que a experiência analítica como experiência ética se produz no reconhecimento da lei que provoca um para-além-da-lei que se distingue estruturalmente do gozo absoluto. O artigo contribui com debate sobre o estatuto da psicanálise como prática teórica e clínica e com as discussões sobre ética no âmbito da filosofia em uma tradição sui generis que pode ser compreendida a partir de Kant, Heidegger e Lacan.(AU)
The goal of this article is to show a psychoanalysis interpretation (Freud-Lacan) as ethical experience. To reach such end, first, we will show the limits of an interpretation of psychoanalysis as science, as well as we will investigate its specificity and will interrogate its effectiveness. In second place, we will articulate the fundamental concepts of the theory and of the psychoanalytical practice (law and desire) as condition of possibility of experience of subject with his desire and interdiction as constitutive elements. In this point we will board the notions of nature and ideal, as well as the notions of experience and ethic, the first [experience] will not be used in the sense of perceptive or cognitive experience, and the second [ethic] will not refer to a determination of principles or rules of action to search the accomplishment or conquest of something as "good". Finally, we will conclude the law recognition in the analytic experience as ethical experience provokes a to-beyond-the-law that is distinguished structurally of the absolute enjoy. The article contributes with the debate on the statute of psychoanalysis as theory and clinical practice and with the discussions about ethic in the philosophy in a sui generis tradition from Kant and Heidegger until Lacan.(AU)
Assuntos
Psicanálise , ÉticaRESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar uma interpretação da psicanálise (Freud-Lacan) como experiência ética. Para alcançar tal fim, primeiro, mostraremos os limites de uma psicanálise entendida como ciência, indagaremos sua especificidade e interrogaremos o que compreende a sua eficácia. Em segundo lugar, articularemos os conceitos fundamentais da teoria e da prática psicanalítica (lei e desejo) não como elementos de um modelo explicativo de fenômenos naturais senão como condição de possibilidade de uma experiência do sujeito com seu próprio desejo e com as interdições que o constituem. Nesse ponto abordaremos as noções de natureza e de ideal. Será preciso ainda especificar as noções de experiência e de ética, já que a primeira não será usada no sentido de experiência perceptiva ou cognitiva, e a segunda não se referirá a um princípio ou regra ou conjunto de princípios ou regras de determinação de ação que procuram a realização ou conquista de um bem. Finalmente, concluiremos que a experiência analítica como experiência ética se produz no reconhecimento da lei que provoca um para-além-da-lei que se distingue estruturalmente do gozo absoluto. O artigo contribui com debate sobre o estatuto da psicanálise como prática teórica e clínica e com as discussões sobre ética no âmbito da filosofia em uma tradição sui generis que pode ser compreendida a partir de Kant, Heidegger e Lacan.
The goal of this article is to show a psychoanalysis interpretation (Freud-Lacan) as ethical experience. To reach such end, first, we will show the limits of an interpretation of psychoanalysis as science, as well as we will investigate its specificity and will interrogate its effectiveness. In second place, we will articulate the fundamental concepts of the theory and of the psychoanalytical practice (law and desire) as condition of possibility of experience of subject with his desire and interdiction as constitutive elements. In this point we will board the notions of nature and ideal, as well as the notions of experience and ethic, the first [experience] will not be used in the sense of perceptive or cognitive experience, and the second [ethic] will not refer to a determination of principles or rules of action to search the accomplishment or conquest of something as "good". Finally, we will conclude the law recognition in the analytic experience as ethical experience provokes a to-beyond-the-law that is distinguished structurally of the absolute enjoy. The article contributes with the debate on the statute of psychoanalysis as theory and clinical practice and with the discussions about ethic in the philosophy in a sui generis tradition from Kant and Heidegger until Lacan.