RESUMO
A literatura de saúde tem abordado os aspectos éticos da investigação com seres humanos há décadas, mas ainda há desafios a serem reconhecidos e superados, tais como os referentes à pesquisa com crianças. Este artigo apresenta e discute aspectos éticos da pesquisa com crianças. Descreve estratégias de abordagem conformes às necessidades infantis, segundo seu processo de desenvolvimento e características individuais, para garantir a participação voluntária da criança na pesquisa.
Ethical issues about research with human beings have been addressed in health literature since decades. In spite of this, it is necessary to enhance actions to face many challenges, like the ones related to investigation of childhood. This paper presents and discusses ethical issues in research with children. It describes some strategies to perform with children, considering their developmental process and individual characteristics, in order to guarantee their voluntary participation in research.
La literatura de salud ha tratado de los aspectos éticos de la investigación con seres humanos hace décadas, pero aun hay retos que deben ser reconocidos y superados, tales como los referentes a la investigación con la población infantil. Este artículo presenta y discute aspectos éticos de la investigación con niños y niñas. Describe estrategias de abordaje adecuadas a las necesidades infantiles, según su proceso de desarrollo y características individuales, para garantizar la participación voluntaria de niños y niñas en investigaciones.
Assuntos
Humanos , Criança , Autonomia Pessoal , Criança , Defesa da Criança e do Adolescente , Saúde da Criança , Ética em PesquisaRESUMO
A experiência da criança em situação de abrigo pode dificultar o desenvolvimento de uma auto-imagem positiva quando o abrigo não atende os princípios estabelecidos por lei. Os valores, as crenças, as imagens, as atitudes e o conjunto de informações vividas na infância delineiam a imagem que a criança tem de si. Por isso, é necessário estudar em que medida o abrigo, em sua função de proteção, contribui, ou não, para a formação da auto-imagem da criança em situação de risco pessoal e social. Se, por um lado, a situação de abrigo pode evitar ou reduzir danos à criança que, no seio da família, se encontrava em situação de risco; por outro, pode causar prejuízos na formação da auto-imagem da criança. Assim, esse estudo teve o propósito de apreender o significado da experiência de abrigo para crianças em idade escolar e identificar referências sobre sua auto-imagem em seus relatos. Considerando os objetivos acima referidos, o método utilizado para desenvolver esta pesquisa foi de cunho descritivo e qualitativo. A escolha por este método deveu-se ao fato dele possibilitar a apreensão da realidade subjetiva de um grupo social. Para tanto, foram realizadas entrevistas com quatorze crianças em situação de abrigo. A organização dos dados permitiu identificar que o significado da experiência de abrigo está associado ao cotidiano, às relações com a família e com os cuidadores. Já a auto-imagem está associada à trajetória de vida, à visão do amigo, à imagemcorporal e ao autoconceito. Os relatos das crianças referentes ao significado da experiência de abrigo mostraram ambivalência de sentimentos em relação à instituição. ) Elas não reconhecem o abrigo como sua casa, contudo percebem que ele atende melhor as necessidades materiais do que suas famílias. Elas sentem que, no abrigo, são cuidadas e protegidas, têm melhores oportunidades de aprendizagem e maior acesso ao lazer. Gostam da instituição, mas desejam que essa situação seja transitória e que possam retornar para casa. Ao mesmo tempo em que os limites impostos pelas rotinas e normas permitem que elas se sintam cuidadas e protegidas, eles causam descontentamento devido às repreensões e falta de liberdade. Os relatos referentes à auto-imagem mostraram que todas as experiências vivenciadas pela criança refletem em seu autoconceito e que, apesar de seu histórico de violência familiar, elas buscam mecanismos de enfrentamento que as permitem desenvolver uma auto-imagem positiva em algumas áreas. O estudo possibilitou compreender que não só a instituição exerce influência sobre a auto-imagem da criança, como esta também influencia a experiência de abrigo.
The experience of a child living in a shelter can hamper their development of a positive self-image when the shelter does not abide by the principles established in accordance with the law. Values, beliefs, images, attitudes and the entire set of information experienced in their childhood builds the image that the child has of them self. Therefore, it is necessary to study to what proportion the shelter, in its function as protection, contributes or not, to the formation of the child's self-image in situations involving personal and social risk. If on one hand, the shelter situation can prevent or reduce damage to the child who, in their own intimate family environment was in a risk situation; it on the other hand, can cause setbacks to the child's formation of self-image. Accordingly, the aim of this study was to learn the significance of such experiences in shelters for school-age children and to identify references about their self-images in their reports. Considering the objectives herein stated, the method used to develop this research was of a descriptive and qualitative nature. The choice of this method should be the fact that it allows us to understand the subjective reality of a social group. With this in mind, interviews of 14 children in the shelter situation were performed. The organization of this data enabled us to identify that the significance of the shelter experience is associated with everyday life, with family relationships and with theprimary caregivers. And self-image is associated with each life history, how one is viewed by friends, with body image and with self-opinion. These children's reports, in regard to the significance of the shelter experience, showed an ambivalence of feelings toward the institution. They do not recognize the shelter as their home; however they understand that the institution meets their material needs much more than their own families do. They feel that at the shelter they are cared for and protected; have better opportunities for learning and higher access to leisure activities. They like the institution, but wish this situation were transitional with the possibility of returning to their homes. At the same time that the limits imposed by the routines and rules make these children feel cared for and protected, they also feel discontentment due to reprimands they receive and their lack of freedom. The reports regarding self-image showed that each and every experience lived by a child, reflects in their self-opinion and that, in spite of their history of family violence, they look for mechanisms to help them develop a positive self-image in some areas. This study enabled us to understand that not only the institution exercises influence on the self-image of children, but also the influence of the shelter experience affects their self-image.