RESUMO
FUNDAMENTO: A evolução clinica intra-hospitalar e pós alta da Cardiomiopatia por Takotsubo (CT) assim como o perfil clinico dos pacientes de maior risco prognóstico não estão bem caracterizados nos grandes registros assim como no Brasil. OBJETIVO: Determinar a taxa de mortalidade intrahospitalar (MIH), as características dos pacientes que apresentaram relação com uma maior mortalidade, e a taxa de reincidência de CT(RCT)e mortalidade ao fim de 1 ano pós alta no Brasil. Delineamento e MÉTODOS: Este é um estudo retrospectivo, observacional,multicêntrico envolvendo 25 centros dispersos geograficamente pelo Brasil. Os critérios de inclusão foram de acordo com International Takotsubo Diagnostic Criteria (InterTAK Diagnostic Criteria). A características clinicas, biomarcadores, ECG, ecocardiograma (ECO), ressonância magnética cardíaca (RMC), foram avaliados durante a fase IH. Também foram avaliados a taxa de MIH, e a taxa de RCT, readmissão por DCV e mortalidade em 30 dias, 6 meses e 1 ano pós-alta. RESULTADOS: 448 pacientes foram admitidos CT, onde foi observado uma taxa de MIH de 7,5%. Na análise univariada do perfil clinico os pacientes do sexo masculino (p=0,009), com idade menos avançada (67±14 vs 73±11; P=0,0179), com choque cardiogênico (p<0,0001), sepsis (P<0,0001), fibrilação atrial (p=0,01) apresentaram significativamente maior MIH e dor toráxica (p<0,0001) com menor MIH. Na análise do ecocardiograma, ECG, RMC e peptídeos natriuréticos e Troponina não foram observados correlações significativas com a MIH. Quanto a terapêutica utilizada, os pacientes que usaram betabloqueador (P<0,0001), IECA/BRA (p<0,001) e AAS (p=0,04), demonstraram uma menor MIH. Os pacientes que utilizaram Dobutamina (p<0,0001), NE (P<0,0001) e e Vasopressina (P < 0,0001) demonstraram maior MIH. Na regressão logística de todas a variáveis significativas, a presença de sepsis (OR:6,8;IC-95%:2,3- 19,4;p=0,0005), uso de vasopressina(OR:7,5;IC95%:1,8-31;p=0,005) definiram maior MIH, enquanto que Betabloqueador(OR:0,23;IC-95%:0,1- 0,7;p=0,009) edortoráxica (OR:0,28;IC-95%:0,1-0,8;p=0,02) demonstraram uma menor associação com MIH. No seguimento pós-alta observamos uma taxa acumulativa de RCT, readmissão por DCV e mortalidade em 30 dias (0,2%;0,4%;0,2%);6 meses (0,6%; 1,2%;0,8%) e 12meses (0,8%;2,4%;0,8%) respectivamente. CONCLUSÃO: O Registro Brasileiro de Takotsubo demonstrou características clinicas e de exames complementares semelhantes aos dos registros internacionais com predomino de dor toráxica com alteração do segmento ST, assim como nos desfechos clínicos intra-hospitalares. A Takotsubo apresenta um prognostico benigno nos 12 meses pós alta, com uma baixa taxa de recorrência, readmissão hospitalar e mortalidade. Palavras-chave: Takotsubo; cardiomiopatia neuroadrenergica.
Assuntos
Cardiologia , Sistema Cardiovascular , Miocardite , Brasil , Humanos , Miocardite/diagnóstico , Miocardite/terapia , Sociedades MédicasAssuntos
COVID-19 , Insuficiência Cardíaca , Insuficiência Cardíaca/epidemiologia , Humanos , Pandemias , SARS-CoV-2RESUMO
INTRODUÇÃO: A organização de uma diretriz clínica é tarefa complexa, que necessariamente deve envolver planejamento prévio, coordenação apropriada, revisão aprofundada da literatura científica, com envolvimento de múltiplos profissionais da área da saúde com notório reconhecimento. A elaboração de uma diretriz clínica de insuficiência cardíaca é ainda mais difícil, por conta da complexidade da síndrome, da amplitude das evidências científicas que permeiam o tópico e do grande impacto que as recomendações propostas têm sobre os pacientes, a comunidade médica e a sociedade como um todo. No presente documento, o Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) apresenta uma revisão e uma atualização detalhadas de sua Diretriz de Insuficiência Cardíaca Crônica. Os trabalhos se iniciaram em setembro de 2017, com a definição da Comissão Coordenadora, que estabeleceu prioridades, dividiu grupos de trabalho e definiu o cronograma das atividades. Os grupos de trabalho, compostos por três a cinco participantes, deram início a intensas discussões virtuais, que culminaram com a redação de tabelas preliminares, sendo posteriormente amplamente divulgadas e revisadas pelos 34 participantes da diretriz. As discussões finais foram realizadas em reunião presencial em março de 2018, com a participação de todos os colaboradores, nas quais as principais recomendações foram votadas individualmente. As decisões quanto à classe das recomendações foram definidas por maioria plena (concordância de mais de 75% dos participantes). As recomendações terapêuticas propostas no presente documento se embasam nas evidências científicas mais atuais, considerando não apenas aspectos de eficácia clínica demonstrados em grandes ensaios clínicos, mas também contextualizando seus achados para o cenário de saúde brasileiro e incorporando aspectos econômicos definidos em estudos de custo-efetividade. Buscamos sumarizar as principais recomendações em fluxogramas e algoritmos de fácil entendimento e grande aplicabilidade clínica, propondo abordagens para o diagnóstico e o tratamento da síndrome em formato moderno, atualizado e didático. Na última seção da diretriz, o que não podemos deixar de fazer e o que não devemos fazer no diagnóstico, prevenção e tratamento da síndrome foram sumarizados em apenas três tabelas. Em especial, destacamos seis intervenções que foram consideradas de alta prioridade, por apresentarem relações de custo-efetividade altamente favoráveis. Sobretudo, esperamos que a publicação deste documento possa auxiliar na redução das elevadas taxas de mortalidade que ainda estão associadas com a insuficiência cardíaca no Brasil, além de minimizar o cruel impacto que a síndrome causa na qualidade de vida de nossos pacientes. Acreditamos que esta diretriz apresenta, de forma hierarquizada, a linha mestra que deve nortear a prática clínica em diferentes níveis de atenção à saúde, permitindo reconhecimento precoce de pacientes em risco, diagnóstico apropriado e implementação de tratamento de forma escalonada, eficaz e coerente com nossa realidade.