RESUMO
O autismo é um transtorno mental caracterizado por déficits na socializaçäo, comunicaçäo e imaginaçäo. Em contraste com estas deficiências, as crianças autistas podem apresentar algumas capacidades isoladas especiais denominadas "ilhas de habilidades" como, por exemplo, a facilidade para a aritmética, música e o desenho além de excelente memória fotográfica, memória para dados e detalhes. A co-ocorrência de epilepsia e retardo mental volveu a atençäo dos pesquisadores para as teorias neurobiológicas e cognitivas da síndrome. O presente trabalho propöe um modelo neurobiológico para o autismo baseado no processo biológico fundamental de competiçäo neuronal. Uma rede neuronal artificial capaz de definir mapas corticais - projeçöes sinápticas que preservam vizinhanças entre duas camadas de tecido neuronal - foi projetada para simular o processo de neurodesenvolvimento. Experimentos foram realizados reduzindo-se o nível da substância fator de crescimento neuronal liberada pelos neurônios, resultando em mapas corticais mal desenvolvidos e sugerindo a causa da neurogênese aberrante presente no autismo. As simulaçöes computacionais sugerem que as regiöes do cérebro responsáveis pela formaçäo das representaçöes de mais alto nível estäo malformadas nos pacientes autistas. A perda desta representaçäo integrada do mundo pode resultar em déficits cognitivos específicos na socializaçäo, comunicaçäo e imaginaçäo e pode, também, explicar algumas ilhas de habilidades. O modelo neuronal é baseado em achados biológicos e em teorias cognitivas recentes do autismo. Algumas relaçöes entre as propriedades computacionais do modelo de rede neuronal e a teoria cognitiva do autismo denominada Teoria da Fraca Coerência Central säo estabelecidas, resultando em uma nova visäo para a etiologia do transtorno