RESUMO
Até 2000, o controle da hanseníase no Brasil foi verticalizado. Depois desta data, o processo de descentralização desta doença deu início a ações que priorizaram o nível primário de atenção à saúde. Entretanto, a assistência ainda permane centralizada em algumas unidades, como o Centro Nacional de Referência em Dermatologia Sanitária D. Libânia (CDERM), em Fortaleza, Ceará. Este centro responde por 84 por cento da detecção do município. O objetivo deste estudo foi investigar os fatores associados à demanda excessiva de casos em nível secundário de atenção representado por este centro de referência. Um estudo transversal foi realizado com 600 usuários selecionados aleatoriamente nos ambulatórios do CDERM. Foram coletados dados: sócio econômico e demográficos, sobre conhecimento da doença e percepção dos serviços. Oitenta e dois por cento dos participantes tinham baixa situação sócio econômica, 90 por cento vieram encaminhados por outras unidades de saúde e 87 por cento tinham a forma multibacilar. Sessenta e nove por cento receberam atendimento prévio em outras Unidades de Saúde, 49 por cento jamais ouviram falar de hanseníase, 24 por cento referiram sentir medo da doença ou terem sofrido discriminação, 39 por cento dos usuários referiram que o atendimento ininterrupto no horário do almoço favorece a permanência no CDERM, 57 por cento e 27 por cento, respectivamente, referiram que a medicação complementar nunca faltou no CDERM e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Sessenta e um por cento considerou que o compromisso dos profissionais no CDERM foi ótimo contra 14 por cento nas UBS. Os fatores relatados pelos usuários, especialmente logísticos e de qualidade de atendimento e dos profissionais, poderiam explicar a concentração de usuários neste centro de referência.