RESUMO
BACKGROUND: It is unknown whether lymphopenia is a risk factor for the reactivation of Chagas disease in heart transplantation (HTx), as recently described in the reactivation of cytomegalovirus in transplant patients. OBJECTIVE: To evaluate whether lymphopenia in the perioperative period of heart transplantation is related to early Trypanosoma cruzi parasitemia. METHODS: This observational, retrospective study analyzed a sample from January 2014 to January 2023). Parasitemia was evaluated in the first 3 months after HTx using serum polymerase chain reaction (PCR) and compared with the total lymphocyte count in the perioperative period of HTx using receiver operating characteristic curves. Baseline characteristics were compared with PCR for Chagas using independent Cox proportional hazards models. A significance level of 5% was adopted. RESULTS: The sample (n = 35) had a mean age of 52.5 ± 8.1 years, and 22 patients (62.8%) had positive PCR for Chagas. The mean lowest lymphocyte values in the first 14 days after HTx were 398 ± 189 and 755 ± 303 cells/mm3 in patients with and without parasitemia, respectively, within 3 months after HTx (area under the curve = 0.857; 95% confidence interval: 0.996 to 0.718, sensitivity and specificity of 83.3% and 86.4%). A cutoff value of less than 550 lymphocytes/mm3 was determined as a risk factor for the presence of parasitemia. Patients with lymphocytes < 550 units/mm3 in the first 14 days after HTx presented positive PCR in 80% of cases. For every increase of 100 lymphocytes/mm3, the risk of PCR positivity was reduced by 26% (hazard rate ratio = 0.74; 95% confidence interval: 0.59 to 0.93, p = 0.009). CONCLUSION: There was an association between lymphopenia in the perioperative period of HTx and early T. cruzi parasitemia detected by PCR.
FUNDAMENTO: É desconhecido se a linfopenia é fator de risco para a reativação da doença de Chagas no transplante cardíaco (TxC), como recentemente descrito na reativação de citomegalovírus em pacientes transplantados. OBJETIVO: Avaliar se a linfopenia no perioperatório do TxC está relacionada à parasitemia precoce pelo Trypanosoma cruzi. MÉTODOS: Amostra analisada (janeiro de 2014 a janeiro de 2023) em estudo observacional e retrospectivo. A parasitemia foi avaliada nos primeiros 3 meses após o TxC por meio da reação em cadeia da polimerase sérica (PCR) e comparada com a contagem total de linfócitos no perioperatório do TxC por curvas ROC. Comparadas características de base com a PCR Chagas por modelos de risco proporcionais de Cox independentes. Nível de significância adotado de 5%. RESULTADOS: Amostra (n = 35) apresentou idade média de 52,5 ± 8,1 anos e PCR Chagas positiva em 22 pacientes (62,8%). As médias dos menores valores de linfócitos nos primeiros 14 dias do TxC foram 398 ± 189 e 755 ± 303 células/mm3 em pacientes com e sem parasitemia nos 3 meses após o TxC, respectivamente (área sob a curva = 0,857; intervalo de confiança de 95%: 0,996 a 0,718, sensibilidade e especificidade de 83,3% e 86,4%). Determinado valor de corte inferior a 550 linfócitos/mm3 como fator de risco para presença de parasitemia. Pacientes com linfócitos < 550 unidades/mm3 nos primeiros 14 dias do pós-TxC apresentaram PCR positiva em 80% dos casos. Para cada aumento de 100 linfócitos/mm3, o risco de positividade da PCR é reduzido em 26% (razão de riscos = 0,74; intervalo de confiança de 95%: 0,59 a 0,93, p = 0,009). CONCLUSÃO: Houve associação entre a linfopenia no perioperatório do TxC com a parasitemia precoce pelo T. cruzi detectada por PCR.
Assuntos
Doença de Chagas , Transplante de Coração , Linfopenia , Parasitemia , Reação em Cadeia da Polimerase , Trypanosoma cruzi , Humanos , Transplante de Coração/efeitos adversos , Masculino , Pessoa de Meia-Idade , Feminino , Trypanosoma cruzi/genética , Trypanosoma cruzi/isolamento & purificação , Estudos Retrospectivos , Contagem de Linfócitos , Doença de Chagas/complicações , Reação em Cadeia da Polimerase/métodos , Adulto , Fatores de Risco , Fatores de Tempo , Valor Preditivo dos Testes , Cardiomiopatia Chagásica/cirurgia , Cardiomiopatia Chagásica/sangue , Curva ROCRESUMO
INTRODUÇÃO: Devido à grande quantidade de receptores para transplante de coração (TxC) e a falta de doadores, a fila de espera mesmo em prioridade pode ser longa. O efeito da terapia com betabloqueador (BB) na mortalidade de pacientes em prioridade na lista de TxC ainda é pouco conhecido, e a incerteza aumenta com uso concomitante de dobutamina, provavelmente pelos efeitos antagônicos esperados. O objetivo principal do estudo foi avaliar a relação do uso de BB com dobutamina na mortalidade por todas as causas nestes pacientes. Os objetivos secundários foram: avaliar o tempo para indicação do balão intra-aórtico (BIA), tempo de uso do BIA, realização de TxC, tempo de internação hospitalar e morte cardiovascular no período intra-hospitalar. MÉTODOS: Estudo observacional e unicêntrico de pacientes com insuficiência cardíaca avançada que estavam em lista para TxC, em prioridade com uso de dobutamina e BB orais no início da internação, no período entre 01 de Janeiro de 2020 até 31 de Dezembro de 2023. Pacientes foram divididos em grupo óbito e grupo vivo, depois analisamos diferenças entre grupo que suspendeu (BBS) e grupo que manteve (BBM) o BB. Na análise de sobrevida aplicamos o estimador de Kaplan-Meier, teste log-rank, regressão de Cox e teste de Schoenfeld. Significância estatística quando p< 0,05. Resultados: 61 pacientes foram incluídos, 101 dias de mediana de internação, 19 faleceram na lista de transplante, 34 foram transplantados e oito aguardavam o transplante até o último dia do período do estudo. Nas características basais, somente suspensão de BB (79% vs 19%), dose final de dobutamina em microgramas (20 vs 15) e TxC realizado (0 vs 100%) tiveram diferença significativa (p< 0,001) entre os grupos óbito e vivo. O TxC foi realizado em 26% no BBS e em 74% no BBM (p< 0,001). Óbito pré-TxC ocorreu em 79% no BBS e 19% no BBM (p< 0,001). Análise multivariada mostrou OR=12,4 para óbito com suspensão do BB (p=0,018, após ajustes). Aos 90 dias, a sobrevida total foi de 52% no BBS e de 97% no BBM (p< 0,001). A sobrevida cardiovascular em 90 dias foi de 60% (BBS) e 97% (BBM), p< 0,001. A relação da sobrevida com suspensão do BB permaneceu significativa após ajustes com HR=9,08 (p=0,032). Conclusões: A suspensão do BB em paciente em lista de transplante cardíaco com dobutamina sugere estar relacionado à maior mortalidade nestes pacientes. Estudos maiores e randomizados são necessários para comprovar esta hipótese.
Assuntos
Tempo de InternaçãoRESUMO
INTRODUÇÃO: A sobrevida dos pacientes transplantados aumentou nas últimas décadas, assim como suas complicações agudas e tardias, tornando o retransplante cardíaco (RTxC) uma opção do tratamento, compondo 3% dos transplantes realizados no mundo. RELATO DE CASO: Paciente do sexo feminino, 59 anos, portadora de miocardiopatia chagásica com insuficiência cardíaca avançada e transplante cardíaco ortotópico aos 33 anos de idade em 07/1997. Dois meses após, foi reinternada por pericardite constrictiva e rejeição aguda celular grave, evoluindo com critérios para RTxC, que foi realizado com sucesso em 10/1997. Nas biópsias subsequentes, apresentou novos episódios de rejeições, além de associação com miocardite por reativação da Doença de Chagas (DCh), sendo realizadas pulsoterapias com metilprednisolona e tratamento com benzonidazol. Nos 14 anos seguintes, evoluiu com múltiplas reativações de DCh, além de piora da classe funcional e doença vascular do enxerto (DVE), sendo novamente alocada para a fila de transplante cardíaco, que foi realizado em 11/2011. Atualmente, encontra-se assintomática, com função biventricular preservada, com PCR para Chagas e painel imunológico negativos. DISCUSSÃO: Mesmo quatro décadas após o primeiro RTxC em 1977, a literatura ainda é escassa no que diz respeito às indicações e seguimento desses pacientes. Alguns critérios predizem melhores resultados, como: DVE, tempo após o primeiro transplante > 1 ano, bem como a ausência de malignidade, hipertensão pulmonar ou demais disfunções orgânicas. Atualmente, a sobrevida no 1º ano dos pacientes submetidos ao RTx cardíaco assemelha-se àqueles submetidos ao transplante primário (80% vs. 85,4%, respectivamente). No Brasil, a cardiomiopatia chagásica é a 3a causa mais comum de transplante cardíaco. Embora estes pacientes costumam evoluir com melhores desfechos após o transplante, a reativação da DCh e a disfunção ventricular grave são indicações para o RTxC. CONCLUSÃO: RTxC é uma opção razoável de tratamento para receptores selecionados. Devido à escassez de doadores, a opção de RTxC não é consensual e a seleção deve ser cuidadosa. No caso relatado, o terceiro transplante cardíaco proporcionou, até o momento, uma sobrevida de 13 anos para a paciente, contribuindo para a ideia de que a taxa de mortalidade para o terceiro transplante cardíaco é aceitável e não proibitivo.
Assuntos
Transplante de Coração , Doença de ChagasRESUMO
Resumo Fundamento É desconhecido se a linfopenia é fator de risco para a reativação da doença de Chagas no transplante cardíaco (TxC), como recentemente descrito na reativação de citomegalovírus em pacientes transplantados. Objetivo Avaliar se a linfopenia no perioperatório do TxC está relacionada à parasitemia precoce pelo Trypanosoma cruzi. Métodos Amostra analisada (janeiro de 2014 a janeiro de 2023) em estudo observacional e retrospectivo. A parasitemia foi avaliada nos primeiros 3 meses após o TxC por meio da reação em cadeia da polimerase sérica (PCR) e comparada com a contagem total de linfócitos no perioperatório do TxC por curvas ROC. Comparadas características de base com a PCR Chagas por modelos de risco proporcionais de Cox independentes. Nível de significância adotado de 5%. Resultados Amostra (n = 35) apresentou idade média de 52,5 ± 8,1 anos e PCR Chagas positiva em 22 pacientes (62,8%). As médias dos menores valores de linfócitos nos primeiros 14 dias do TxC foram 398 ± 189 e 755 ± 303 células/mm3 em pacientes com e sem parasitemia nos 3 meses após o TxC, respectivamente (área sob a curva = 0,857; intervalo de confiança de 95%: 0,996 a 0,718, sensibilidade e especificidade de 83,3% e 86,4%). Determinado valor de corte inferior a 550 linfócitos/mm3 como fator de risco para presença de parasitemia. Pacientes com linfócitos < 550 unidades/mm3 nos primeiros 14 dias do pós-TxC apresentaram PCR positiva em 80% dos casos. Para cada aumento de 100 linfócitos/mm3, o risco de positividade da PCR é reduzido em 26% (razão de riscos = 0,74; intervalo de confiança de 95%: 0,59 a 0,93, p = 0,009). Conclusão Houve associação entre a linfopenia no perioperatório do TxC com a parasitemia precoce pelo T. cruzi detectada por PCR.
Abstract Background It is unknown whether lymphopenia is a risk factor for the reactivation of Chagas disease in heart transplantation (HTx), as recently described in the reactivation of cytomegalovirus in transplant patients. Objective To evaluate whether lymphopenia in the perioperative period of heart transplantation is related to early Trypanosoma cruzi parasitemia. Methods This observational, retrospective study analyzed a sample from January 2014 to January 2023). Parasitemia was evaluated in the first 3 months after HTx using serum polymerase chain reaction (PCR) and compared with the total lymphocyte count in the perioperative period of HTx using receiver operating characteristic curves. Baseline characteristics were compared with PCR for Chagas using independent Cox proportional hazards models. A significance level of 5% was adopted. Results The sample (n = 35) had a mean age of 52.5 ± 8.1 years, and 22 patients (62.8%) had positive PCR for Chagas. The mean lowest lymphocyte values in the first 14 days after HTx were 398 ± 189 and 755 ± 303 cells/mm3 in patients with and without parasitemia, respectively, within 3 months after HTx (area under the curve = 0.857; 95% confidence interval: 0.996 to 0.718, sensitivity and specificity of 83.3% and 86.4%). A cutoff value of less than 550 lymphocytes/mm3 was determined as a risk factor for the presence of parasitemia. Patients with lymphocytes < 550 units/mm3 in the first 14 days after HTx presented positive PCR in 80% of cases. For every increase of 100 lymphocytes/mm3, the risk of PCR positivity was reduced by 26% (hazard rate ratio = 0.74; 95% confidence interval: 0.59 to 0.93, p = 0.009). Conclusion There was an association between lymphopenia in the perioperative period of HTx and early T. cruzi parasitemia detected by PCR.
RESUMO
INTRODUÇÃO: É desconhecido se a linfopenia é um fator de risco para a reativação da Doença de Chagas (RDC) no transplante cardíaco (TxC), como recentemente descrito na reativação de citomegalovírus em pacientes transplantados. O objetivo do estudo é avaliar se a linfopenia no perioperatório do TxC tem relação com a RDC. MÉTODOS: Foram avaliados prontuários médicos (janeiro/2014 a janeiro/2023) em estudo observacional e retrospectivo. A RDC (avaliada nos primeiros três meses após o TxC por meio da reação em cadeia da polimerase/biópsia endomiocárdica) foi comparada com a contagem total de linfócitos no perioperatório do TxC. Análise estatística: Características de base da amostra comparadas por testes exatos de Fisher ou testes t-student. Realizados modelos de risco proporcionais de Cox para mostrar a chance de RDC, a partir dos valores de linfócitos de base. Ajustado modelo considerando os linfócitos como covariável tempo dependente, por razão de risco (HR) com intervalos de confiança de 95%. RESULTADOS: Amostra (n=35) apresentou idade média de 52,5±8,1 anos, sendo 63% do sexo masculino. A RDC ocorreu em 22 pacientes (62,8%). Os valores mínimos de linfócitos nos primeiros quinze dias do TxC foram 398±189 e 755±303 células/mm³ em pacientes com e sem RDC nos três meses após o TxC, respectivamente (AUC=0,857; com sensibilidade de 83.3% e especificidade de 86.4%). Foi determinado o valor de corte inferior a 550 linfócitos/mm³ como fator de risco para RDC. Pacientes com linfócitos <550 unidades/ mm³ nos primeiros quinze dias do pós-TxC apresentaram RC em 100% dos casos, em até 60 dias do TxC. Para cada aumento de 100 linfócitos/mm³, o risco de RDC é reduzido em 26% (HR = 0.74 [IC95%: 0.59 a 0,93]). CONCLUSÃO: Há associação entre a linfopenia no perioperatório do TxC com a RDC.
RESUMO
FUNDAMENTO: É desconhecido se a linfopenia é um fator de risco para a reativação da Doença de Chagas (RDC) no transplante cardíaco (TxC), como recentemente descrito na reativação de citomegalovírus em pacientes transplantados. OBJETIVO: O objetivo do estudo é avaliar se a linfopenia no perioperatório do TxC tem relação com a RDC. Métodos: Foram avaliados prontuários médicos (janeiro/2014 a janeiro/2023) em estudo observacional e retrospectivo. A RDC (avaliada nos primeiros três meses após o TxC por meio da reação em cadeia da polimerase/ biópsia endomiocárdica) foi comparada com a contagem total de linfócitos no perioperatório do TxC. Análise estatística. Características de base da amostra (n=35) comparadas por testes exatos de Fisher ou testes t-student. Realizados modelos de risco proporcionais de Cox para mostrar a chance de RDC, a partir dos valores de linfócitos de base. Ajustado modelo considerando os linfócitos como covariável tempo dependente, por razão de risco (HR) com intervalos de confiança de 95%. RESULTADOS: Os valores mínimos de linfócitos nos primeiros quinze dias do TxC foram 398±189 e 755±303 células/mm³ em pacientes com e sem RDC nos três meses após o TxC, respectivamente (AUC=0,857; com sensibilidade de 83.3% e especificidade de 86.4%). Foi determinado o valor de corte inferior a 550 linfócitos/mm³ como fator de risco para RDC. Pacientes que apresentaram linfócitos<550 unidades/mm³ nos primeiros quinze dias do pósTxC apresentaram RC em 100% dos casos, em até 60 dias do TxC. Para cada aumento de 100 linfócitos/mm³, o risco de RDC é reduzido em 26% (HR = 0.74 [IC95%: 0.59 a 0,93]). CONCLUSÃO: Há associação entre a linfopenia no perioperatório do TxC com a RDC.
RESUMO
FUNDAMENTO: A doença de Chagas está entre as três principais indicações de transplante cardíaco no Brasil. Apesar de sua prevalência expressiva, principalmente nos casos avançados de insuficiência cardíaca, permanecem escassos os dados sobre seu comportamento clínico pós transplante. Durante o período de seguimento, é mandatória a monitorização dos valores séricos do Tripanozoma cruzi, seja por PCR ou biópsias, visando diagnóstico precoce de reativação. A depender do imunossupressor utilizado, a incidência da reativação varia entre 19,6% a 90%, sendo mostrado em um estudo maior associação com uso de micofenolato mofetil (MMF), com apresentação clínica igualmente variável. RELATO DE CASO: Paciente do sexo feminino, 62 anos, submetida a transplante cardíaco em julho de 2022, devido miocardiopatia chagásica. Estava em acompanhamento ambulatorial, em uso de terapia imunossupressora com tracrolimus 1mg/dia, micofenolato de sódio 720mg/dia e prednisona 20mg/dia. Em janeiro de 2023, paciente compareceu em consulta com queixa de pequena lesão cutânea ulcerada em glúteo e dosagem de PCR para citomegalovirus (CMV) negativa. Em fevereiro, persistia com lesão evolutivamente pior, quando iniciou quadro progressivo de hiporexia, dor abdominal e náuseas, associado injúria renal aguda, elevação de troponina e NT-proBNP. Foi então internada devido à hipótese de rejeição aguda do enxerto associada a infecção cutânea. O ecocardiograma não demonstrou piora da função ventricular, porém os PCR séricos para CMV e Chagas foram positivos. Além disso, foi realizada biópsia de lesão glútea demonstrou infiltrado eosinofílico e células ovaladas sugerindo forma livre do Trypanossoma cruzi. Chamava atenção linfopenia persistente, sendo suspenso micofenolato de sódio. A paciente recebeu tratamento com ganciclovir e benzonidazol, apresentando melhora clínica e laboratorial, incluindo da lesão cutânea. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: A reativação do T. Cruzi está associado à imunossupressão excessiva, onde a resposta linfocitária T helper 1 está comprometida. Existe uma maior associação com reativação quando o MMF está na prescrição. Os sintomas costumam ser similares a fase aguda da doença de Chagas, com artralgia, mialgia, febre, hiporexia, além de miocardite e meningoencefalite. O acometimento cutâneo se torna um desafio diagnostico devido seu alto grau de polimorfismo na apresentação. O diagnóstico pode ser feito através de PCR sérico, biópsias cutâneas de lesões ou miocárdicas. O tratamento com benzonidazol 2,5-5mg/kg/dia por 60 dias costuma ser eficaz. O uso profilático é controverso. Quando reconhecida e prontamente tratada, a mortalidade é menor que 1%. Palavras-chave: transplante cardíaco; Chagas; reativação; doença de Chagas.
RESUMO
BACKGROUND: The post−acute cardiovascular manifestations of COVID-19, known as long COVID, have yet to be comprehensively characterized. There is also an increased risk of heart failure in individuals without cardiovascular disease before SARS-CoV-2 infection. The literature lacks information regarding the characteristics of patients with long COVID who developed advanced heart failure refractory to guideline-directed medical therapy. METHODS: We describe the characteristics of patients with long COVID (LC) who were listed for heart transplantation. The study population comprised 45 patients listed for heart transplantation, divided into 2 groups: patients with etiologies other than LC (n = 41) and patients with LC (n = 4) between January 2020 and March 2022. The endpoint of this study was the description of the characteristics of each group. RESULTS: The average duration of hospitalization after the acute infectious episode with SARS CoV-2 was 150 § 113 days, and all patients were hospitalized in New York Heart Association class IV. All LC patients were oligosymptomatic in the initial infection, did not require hospitalization in the acute phase, had a lower ejection fraction, used more intra-aortic balloon pumps, had lower pulmonary vascular resistance, and fewer comorbidities compared with other etiologies, suggesting a clinical feature compatible with low cardiac output rather than congestion. CONCLUSIONS: This study is an early investigation of patients listed for heart transplantation due to a complex syndrome of COVID-19. These preliminary findings warrant further large-scale investigation.
Assuntos
Síndrome de COVID-19 Pós-AgudaRESUMO
INTRODUÇÃO: A Doença de Chagas (DC) é a terceira principal causa de Transplante Cardíaco (TxC). Apesar de apresentar desfecho favorável, tem como complicação à imunossupressão a reativação de Chagas (RC) presente em 26,4 a 40% dos pacientes, com prognóstico ruim quando não diagnosticada/tratada. Conhecer fatores de risco para RC auxilia no manejo desses pacientes. A Literatura mostra que a infecção por citomegalovírus (CMV) no TxC está relacionada à linfopenia, cuja resposta imunológica é dependente de linfócitos, à semelhança da DC, contudo, não há estudos atuais que relacionaram a contagem de linfócitos com a RC. OBJETIVOS: Avaliar se a baixa contagem de linfócitos totais no perioperatório do TxC tem relação com a RC. MÉTODOS: estudo observacional, retrospectivo, unicêntrico, realizado por análise de dados (clínicos/laboratoriais/anatomopatológicos) de prontuário dos pacientes com cardiopatia chagásica refratária, submetidos ao TxC, nos períodos de janeiro de 2014 até janeiro de 2023. Avaliada a RC (reação cadeia da polimerase/ biópsia endomiocárdica), nos primeiros 3 meses pós TxC e analisada a relação com a contagem total de linfócitos no perioperatório. ANÁLISE ESTATÍSTICA: Amostra de 35 pacientes, comparadas as características de base por testes exatos de Fisher ou testes t-student. Três modelos de tempo até evento considerando modelo de risco proporcionais de Cox realizados para mostrar a chance RC, a partir de valores de linfócitos de base. Ajustado modelo considerando os linfócitos como covariável tempo dependente, por razão de risco (HR) com intervalos de confiança de 95%. RESULTADOS: O valor mínimo de linfócitos nos primeiros quinze dias do TxC foi de 755 ± 303 unidades/mm³ nos pacientes sem RC e de 398 ± 189 unidades/mm³ nos pacientes com RC nos primeiros três meses pós TxC, configurando AUC=0,857, com sensibilidade de 83,3% especificidade de 86,4%, determinando valor de corte de linfócitos<550/mm³ como fator de risco para RC, muito semelhante à literatura para reativação de CMV. Pacientes com linfócitos<550/mm³ em até 15 dias do pós-TxC apresentaram RC em 100% dos casos, em até 60 dias do TxC. A HR apresentada para o valor mínimo de linfócitos até 15 dias indica que, a cada 100 unidades a mais de linfócitos, o risco de reativação reduza em 26% (HR = 0.74 [IC95%: 0.59 a 0,93]). CONCLUSÃO: Há relação entre a baixa contagem de linfócitos durante o perioperatório do TxC com a RC nos primeiros três meses após o procedimento.
RESUMO
FUNDAMENTO: O átrio esquerdo gigante (AEG) é uma condição definida por um diâmetro do átrio esquerdo (AE) superior a 65 mm. O AEG é comumente associado à regurgitação da válvula mitral devido ao excesso de pressão intracavitária, resultando em distensão e dilatação da câmara atrial esquerda. Por outro lado, o AEG pode ser uma causa de regurgitação mitral devido à dilatação do anel (insuficiência mitral atrial). RELATO DE CASO: Homem de 67 anos, foi avaliado ambulatoerialmente por insuficiência cardíaca avançada (refratária apesar de terapia otimizada). Sua história patológica pregressa era positiva para doença reumática e doença de Chagas. Sua radiografia de tórax demonstrava aumento do índice cardiotorácico (cardiomegalia), alargamento da carina e elevação do brônquio fonte esquerdo. O eletrocardiograma evidenciou fibrilação atrial (FA) e seu ecocardiograma transtorácico revelou dilatação importante do átrio esquerdo (120mm ou 970ml/m2) e átrio direito (49ml/m2). O diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo (DDVE) foi de 81 mm, a fração de ejeção ventricular esquerda foi de 62%. Havia dilatação importante do anel mitral e do anel tricúspide, causando falha de coaptação das cúspides, com regurgitação mitral e tricúspide grave. A pressão sistólica da artéria pulmonar foi estimada em 49mmHg. A ressonância magnética nuclear (RMN) cardíaca confirmou átrio direito de 180ml/m2 e átrio esquerdo gigante (1,06 L/m2), ocupando mais de dois terços da cavidade torácica e resultando em compressão extrínseca das estruturas vizinhas (Figura 1). Diante do quadro desafiador, o paciente foi encaminhado para reunião de decisão clínico-cirúrgica, para entendimento de procedimento cirúrgico valvar, avaliação de transplante cardíaco ou deteriminação de tratamento clínico sob cuidados paliativos. DISCUSSÃO: Embora o mecanismo preciso da dilatação importante do átrio esquerdo e direito não seja bem conhecido, o AEG está fortemente associado à cardiopatia reumática e à fibrilação atrial permanente. Nesse caso, o paciente apresentava história médica pregressa de febre reumática, FA permanente e doença de Chagas. No entanto, não há correlação descrita entre doença de Chagas e AE gigante, portanto não pode ser descartada como uma possível causa. A correção cirúrgica da regurgitação atrial mitral e tricúspide é controversa, devendo em casos de maior complexidade, ser discutida através de reunião formal com equipe clínica e cirúrgica nas especialidades orrelatas.
Assuntos
Humanos , Masculino , Idoso , Insuficiência da Valva Tricúspide , Insuficiência da Valva Mitral , Átrios do Coração , Insuficiência CardíacaRESUMO
INTRODUÇÃO E/OU FUNDAMENTOS: A ponte miocárdica, caracterizada por constricção sistólica, pode ocorrer em qualquer artéria coronária sendo mais frequente na descendente anterior (DA) e em pacientes com Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH). Apesar de benigna, na maioria dos casos, representa um desafio diagnóstico e terapêutico em um subgrupo de pacientes com CMH sintomáticos. RELATO DO CASO: Paciente (p) masculino,15 anos de idade, portador de CMH septal assimétrica obstrutiva diagnosticada aos 12 anos de idade, submetido a miectomia e ressecção de banda muscular septal há 3 anos. Relatava dispneia e fadiga aos grandes e moderados esforços, dor torácica, lipotímia e palpitações. Obteve melhora parcial dos sintomas logo após a cirurgia, com recorrência dos mesmos em 1 ano, apesar do uso de betabloqueador em dose otimizada. O ecocardiograma (eco) evidenciou hipertrofia septal com gradiente máximo de 26mmHg na via de saída de ventrículo esquerdo (VE), espessura do septo de 18mm, fração de ejeção (FEVE) preservada e strain longitudinal global do VE de -16,5%. No eco com estresse físico (ciclomaca), p apresentou reprodução dos sintomas, com baixo débito, fadiga e palidez. Não houve aumento do gradiente VE-Aorta durante o esforço, porém redução significativa da função global do VE e piora do Strain (-3,8%). A ressonância magnética do coração, evidenciou fibrose miocárdica (9,5% da massa total do VE). Na cintilografia miocárdica observou-se hipocaptação transitória discreta a moderada da parede inferosseptal (médio e basal) do VE compatível com isquemia (6%). O teste cardiopulmonar evidenciou restrição grave da capacidade funcional e pela coronariografia, DA com imagem de constricção sistólica acentuada, compatível com trajeto intramiocárdico no terço médio. Introduzido Dicloridrato de Trimetazidina, com melhora transitória dos sintomas, e solicitado teste genético. Após 1 mês, p procura o pronto socorro por dispneia e dor torácica aos pequenos esforços e em repouso. Foi suspensa a Trimetazidina e iniciado Ranolazina. Pelos sintomas incapacitantes e refratariedade às medicações, foi submetido a transplante cardíaco. CONCLUSÕES: A ponte miocárdica dependendo de sua profundidade e extensão dentro do músculo cardíaco pode ter um curso maligno, como visto neste caso. A queda importante da FEVE e do strain no eco com estresse físico associado a sintomatologia do paciente permitiu o diagnóstico de isquemia atribuída à presença da ponte miocárdica identificada na coronariografia associado a CMH.
Assuntos
Cardiomiopatia HipertróficaRESUMO
BACKGROUND: Long COVID is a condition characterized by long-term consequences persisting or appearing after the typical convalescence period of COVID-19. It may last several months but the duration is still matter of observation. The symptoms and the clinical manifestations are clinically heterogeneous including heart failure (HF) episodes. We describe a case series of 4 patients who had long COVID and evolved to heart transplantation (Tx) indication from January/2020 to February/2022. DESCRIPTION: Mean age was 38±9.5 years, 75% were male and 50% were Caucasian. The whole sample was admitted in NYHA IV functional class. None of the patients had more than one previous comorbidity. All had positive troponin, NT-ProBNP (20234±13373) and c-reactive protein (14,7±13,1). Mean time from COVID-19 infection to admission date was 150±113 days and mean time from admission date to outcome was 112±62,1 days. Mean Ejection Fraction (EF) was 17±3,7% and 75% used Intra-aortic balloon (IAB). Two patients underwent Tx (all still alive), one died prior to Tx and one is still in the waiting list. 75% of patients had thrombotic complications awaiting Tx and all transplant patients had treated cellular rejection and Cytomegalovirus infection (table). CONCLUSION: HF secondary to COVID-19 due to Long COVID can progress to refractoriness to clinical treatment and Tx is the therapy of choice, showing success, despite high mortality during waiting list.
Assuntos
Transplante de Coração , Insuficiência Cardíaca , Mortalidade , COVID-19RESUMO
FUNDAMENTO: As manifestações cardiovasculares pós-agudas da COVID-19, chamado de COVID longo, ainda não foram caracterizadas de forma abrangente e podem paresentar risco aumentado de doença cardiovascular, incluindo insuficiência cardíaca (IC). Esses riscos foram evidentes mesmo entre os indivíduos que não foram hospitalizados durante a fase aguda da infecção e aumentaram de forma gradativa de acordo com o ambiente de cuidados durante a fase aguda (não hospitalizados, hospitalizados e internados em terapia intensiva). Na literatura existe uma falta de informações sobre as características dos pacientes com COVID longo que desenvolveram IC avançada e refratária às medidas medicamentosas, e o transplante de coração (Tx) foi a opção mais viável. OBJETIVO: Descrevemos as características dos pacientes com COVID longo (pCl) que necessitaram ser listados para Tx como tratamento para a IC avançada. MÉTODOS: Avaliamos os pacientes inscritos na lista de Tx entre Janeiro de 2020 e Março de 2022 e comparamos as suas caraterísticas com as outras etiologias. RESULTADOS: Foram inscritos 44 pacientes no período de janeiro de 2020 a Marco de 2022. Identificamos 4 (9,1%) pCl como etiologia para o transplante (Tx). A média para a internação após o episódio infeccioso pelo Sars-COv-2 foi de 150±113 dias e todos internaram em CF IV. Todos os pCl tiveram quadro infeccioso inicial oligossintomático e não necessitaram de internação nesta fase aguda A distribuição das etiologias foi dilatada em 18p (40%), vários (incluindo valvar, hipertrófica, miocárdio não compactado, periparto e congênito) em 11p (24%), Chagas em 9 (20%), Covid em 4p (9%) e isquêmico em 3p (7%). A análise final comparou o grupo Outros que incluiu as outras etiologias que não Covid em 41p (91%) versus Covid em 4p (9%) (tabela). Um pCl faleceu antes do Tx em uso de BIA por complicações trombóticas. A maioria dos pCI tinham FE menor, usaram mais BIA, apresentaram resistência vascular pulmonar menor e tinham menos comorbidades em relação as outras etiologias. CONCLUSÃO: Nossos achados sugerem que os pacientes com COVID longo com indicação de Tx têm uma tendência de menor RVP e maior uso de BIA, sugerindo quadro clínico compatível com baixo débito ao invés de congestão. A mortalidade do pCl após o Tx foi baixa. Novos estudos multicêntricos são necessários para confirmar nossos achados. Palavras-chave: COVID-19, transplante de coração, insuficiência cardíaca.
Assuntos
Transplante de Coração , COVID-19 , Insuficiência CardíacaRESUMO
FUNDAMENTO: A inflamação pode estar envolvida na ativação imune do transplante, resultando em disfunção do enxerto. A COVID-19 é caracterizada pela liberação descontrolada e elevada de citocinas pró-inflamatórias e imunidade suprimida. Descrevemos um caso de paciente com transplante de coração e COVID-19 que desenvolveu disfunção do enxerto e os achados do perfil de citocinas na biopsia endomiocárdica. RELATO DE CASO: Paciente com transplante cardíaco há 13 anos apresentou-se no PS com queixa de diarreia com duração de 7 dias e teste rápido para COVID-19 positivo, evoluiu com disfunção ventricular (FE=56% anterior de 66%) com ressonância magnética compatível com miocardite aguda e elevação de troponina. Após cinco dias de pulsoterapia com corticoide em altas doses e melhora da função ventricular e redução da troponina, realizou biópsia endomicárdica, com resultado 0R. A tomografia computadorizada de coronárias mostrou ausência de calcificação coronária ou redução luminal coronária significativa. A última vacina para COVID foi há 6 meses antes da internação e ela não tomou a terceira dose porque estava gripada na época. Recebeu alta hospitalar após 11 dias com recuperação da função do enxerto. No dia da biópsia, o teste rápido para COVID-19 foi negativo e o RT-PCR no tecido miocárdico não detectou o vírus SARS-CoV-2. Usando a mesma amostra de biópsia, a expressão de 84 genes relacionados à regulação da inflamação também foi analisada usando o método RT2 Profiler PCR Array (Qiagen Cat. No. 330213 PAHS-077Z). A interpretação dos resultados foi comparada com uma amostra controle, que teoricamente não tinha COVID-19. Encontramos 15 genes mais expressos em tecidos que tinham COVID-19 (tabela). Por exemplo, o gene CCL16 foi 8,5 vezes mais expresso em tecido com COVID-19 do que o controle. DISCUSSÃO: A literatura recente descreve que os genes CXCL5 e NFKB1 têm envolvimento na biologia do coronavírus e estão envolvidos na resposta imune ou atividade antiviral, IL17A tem envolvimento na biologia do coronavírus e está envolvido na resposta inflamatória da tempestade de citocinas, e KNG1 tem envolvimento na biologia do coronavírus e é relevante para o processo da doença. CONCLUSÃO: Este é um dos primeiros relatos sobre o uso de um perfil de citocinas analisado em uma biópsia miocárdica de um paciente transplantado com COVID-19. Além da detecção de genes que regulam a inflamação, foram identificados alguns genes relacionados ao envolvimento da biologia e resposta imune ou atividade viral, o que pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de futuros estudos clínicos.
Assuntos
Biópsia , Citocinas , Transplante de Coração , COVID-19 , MiocárdioRESUMO
FUNDAMENTO: A pandemia mundial da COVID-19 criou desafios sem precedentes, principalmente para os transplantados que representam uma coorte única de indivíduos cronicamente imunossuprimidos. RELATO DE CASO: Mulher, 53 anos, branca, submetida a transplante cardíaco em 2009. Iniciou com queixa de diarreia com fezes líquidas há 1 semana, 4 episódios/dia, sem produtos patológicos, associada a náuseas, hipogeusia, mialgia, astenia e hiporexia. Negava febre ou sintomas respiratórios. Deu entrada no pronto-socorro com evidência de piora da função renal (Cr = 3,7), ph=6.990 na gasometria arterial, PCR negativo para CMV e sinais de hipovolemia. Um teste rápido para Covid-19 deu positivo naquele dia e negativo após 8 dias. Não havia imagem pulmonar na tomografia computadorizada. Inicialmente, o ECO-TT realizado na admissão não evidenciou disfunção do VE ou alteração contrátil segmentar. No dia seguinte houve aumento da troponina (814 NV < 11ng/L) e novo ECO-TT mostrou acinesia dos segmentos médios das paredes anterior, anterolateral, inferolateral e inferior e nova disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (FEVE 64% - >50%). Foi iniciada pulsoterapia com metilprednisolona 500mg/dia por 3 dias e biópsia endomiocárdica foi realizada 5 dias após esse tratamento e 2 dias após o teste de COVID ser negativo. O miocofenolato foi descontinuado. Foi realizada ressonância magnética cardíaca (RMC) que sugeriu miocardite inflamatória. Paciente evoluiu com melhora da diarreia e sem outros sintomas. Os exames laboratoriais mostraram diminuição da troponina e recuperação da função renal. A biópsia miocárdica (EMB) revelou rejeição 0R e focos de atrofia muscular e infiltração adiposa, sem infiltrados linfocitários ou alterações virais, e nenhum vírus SARS-CoV-2 foi detectado pelo método RT-PCR. A tomografia computadorizada de coronárias (TCC) mostrou ausência de calcificação coronária ou redução luminal coronária significativa. A última vacina para COVID foi há 6 meses antes da internação e ela não tomou a terceira dose porque estava gripada na época. DISCUSSÃO: A evolução "benigna" deste caso pode ter sido consequência da vacinação, ainda que não competa e do uso de corticosteroides em altas doses que resolveram o episódio de disfunção do enxerto. A suspensão de micofenolato foi baseada na revisão da literatura. Este caso ilustra a dificuldade diagnóstica entre miocardite pós-covid causadora de diarreia e/ou rejeição por diarreia em paciente transplantado de coração, e as dúvidas podem persistir devido às limitações tecnológicas diagnósticas disponíveis em cada instituição.
Assuntos
Transplante de Coração , Diarreia , COVID-19RESUMO
INTRODUÇÃO: COVID longo é um termo abrangente que se refere a sintomas da COVID-19 que persistem além da fase inicial de uma infecção por SARS-CoV-2. Pode perdurar por vários meses, mas a duração precisa ainda é incerta. As manifestações clínicas são heterogêneas, incluindo episódios de Insuficiência Cardíaca (IC), alguns deles refratários ao tratamento clínico. COVID longo pode ser benigno e afetar pacientes com ou sem comorbidades. Nós descrevemos uma série de casos de pacientes que apresentaram COVID longo e evoluíram com indicação de transplante cardíaco (Tx). MÉTODOS: Estudo observacional, retrospectivo e de centro único. Análise de dados clínicos e laboratoriais realizada por meio do prontuário médico, de março de 2020 a fevereiro de 2022. Foram incluídos pacientes portadores de COVID longo, expresso por IC refratária ao tratamento clínico. Os desfechos avaliados foram morte ou Tx. RESULTADOS: Um total de quatro pacientes foi incluído. A média de idade foi de 38±9.5 anos, 75% eram homens e 50% eram caucasianos. Todos foram oligossintomáticos na fase aguda da COVID-19 e nenhum deles foi internado na época. Contudo, na internação, todos estavam em classe funcional (NYHA) IV. Nenhum dos pacientes apresentava mais de uma comorbidade. Todos apresentaram troponina positiva, NT-ProBNP elevado (20234±13373) e proteína C reativa alterada (14,7±13,1). A média de tempo entre a COVID-19 e a data da internação foi de 150±113 dias, enquanto a média de tempo entre a data da internação e o desfecho foi de 112±62,1 dias. A média de fração da ejeção (FE) foi de 17±3,7% e 75% necessitaram de balão intra-aórtico. Três pacientes realizaram o Tx (vivos até o momento) e um paciente faleceu na fila pré-Tx. 75% dos pacientes apresentaram complicações trombóticas. Dois pacientes transplantados apresentaram rejeição celular e infecção por Citomegalovírus. CONCLUSÃO: Este é um dos primeiros relatos na literatura onde COVID longo foi a etiologia para o Tx. Todos os Tx foram realizados com sucesso, apesar da taxa elevada de fenômenos trombóticos no pré e no pós-transplante.
Assuntos
Transplante de Coração , COVID-19 , Insuficiência CardíacaRESUMO
FUNDAMENTO: Citocinas inflamatórias secretadas por monócitos e macrófagos são consideradas como tendo um papel crucial na progressão grave da COVID-19. RELATO DE CASO: Paciente com transplante cardíaco há 13 anos procurou o PS com queixa de diarreia com duração de sete dias e teste rápido para COVID-19 positivo, evoluiu com disfunção ventricular com ressonância magnética compatível com miocardite aguda. Após cinco dias de pulsoterapia com corticoide em altas doses e melhora da função ventricular, realizou biópsia endomicárdica, com resultado 0R. No dia da biópsia, o teste rápido para COVID-19 foi negativo e o RT-PCR no tecido miocárdico não detectou o vírus SARS-CoV-2. Usando a mesma amostra da biópsia, a expressão de 84 genes relacionados à regulação da inflamação também foi analisada usando o método RT2 Profiler PCR Array (Qiagen Cat. No. 330213 PAHS-077Z). A interpretação dos resultados foi comparada com uma amostra controle, que teoricamente não tinha COVID-19. Encontramos 15 genes mais expressos em tecidos que tinham COVID-19 (ver tabela). Por exemplo, o gene CCL16 é 8,5 vezes mais expresso em tecido com COVID-19 do que o controle. Revisão da literatura recente, realata que os genes CXCL5 e NFKB1 têm envolvimento na biologia do coronavírus e estão envolvidos na resposta imune ou atividade antiviral, IL17A tem envolvimento na biologia do coronavírus e está envolvido na resposta inflamatória da tempestade de citocinas, e KNG1 tem envolvimento na biologia do coronavírus e é relevante para o processo da doença. CONCLUSÃO: Este é um dos primeiros relatos sobre o uso de um perfil de citocinas analisado em uma biópsia miocárdica de um paciente transplantado com COVID-19. Além da detecção de genes que regulam a inflamação, foram identificados alguns genes relacionados ao envolvimento da biologia e resposta imune ou atividade viral, o que pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de futuros estudos clínicos.
Assuntos
Transplante de Coração , Síndrome da Liberação de Citocina , COVID-19 , BiópsiaRESUMO
ABSTRACT: The COVID-19 pandemic continues, with a late hyperinflammatory phase. The immunosuppressive therapy used in heart transplant patients, in theory, could reduce inflammation thus benefitting patients with COVID-19. So far, however, there is still very little literature on this subject. METHODS: This is a single-center retrospective study. We described laboratory parameters and clinical outcomes from 11 heart transplant patients with COVID-19 assisted at Dante Pazzanese Institute of Cardiology between March and July 2020. RESULTS: Patients with ages between 35 to 79 years, and heart transplantation occurred from 3 to 264 months. The main comorbidities were diabetes mellitus (9/11; 81.8%), hypertension (10/11; 90.9%), and chronic renal disease (6/11; 54.5%). Cyclosporine A was used in 10 (90.9%) patients, mycophenolate mofetil in 9 (81.8%), and mTOR inhibitor in 5 (45.5%). Fever and cough were observed in 8 (72.7%) patients, and dyspnea and gastrointestinal symptoms in 5 (45.5%). Lymphopenia was observed in 10 (90.9%) and thrombocytopenia in 5 (45.5%). The higher level of troponin associated with chest tomography above 50% infiltrates of ground-glass opacity (GGO) was observed in those with the worst outcomes. Nine patients needed intensive care, and hospital stay ranged from 4 to 21 days, with 2 (18.2%) patients requiring vasopressor drugs and mechanical ventilation, and three patients (27.3%) dying due to COVID-19 complications. CONCLUSION: Heart transplant patients had the similar symptoms and outcomes as general population; immunosuppressive therapy seems not to have protected them. Patients who presented higher levels of troponin and D-dimer, associated to greater GGO pulmonary infiltrates had worse outcomes. More studies with larger cohorts may clarify immunosuppressive effects on COVID-19 outcomes.
Assuntos
Transplante de Coração , Síndrome Respiratória Aguda Grave , Transplantados , Doenças Cardiovasculares/cirurgia , Betacoronavirus , COVID-19RESUMO
FUNDAMENTO: A sobrevida média do paciente adulto após transplante cardíaco é de 11 anos. A taxa melhorou expressivamente nas últimas décadas, sendo superior a 85% no primeiro ano. Os principais ganhos ocorrem nos primeiros 6 a 12 meses, contudo a taxa de mortalidade a longo prazo permanece em torno de 3,4% ao ano. O prognóstico é determinado por características do doador, do receptor e do procedimento cirúrgico. A imunossupressão acrescenta risco adicional de infecções oportunistas, diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial, neoplasia e insuficiência renal. RELATO DE CASO: MFM, feminina, iniciou acompanhamento no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC) em 1988, aos 35 anos, devido a miocardiopatia dilatada de etiologia idiopática com fração de ejeção reduzida. Relatava antecedentes de febre reumática sem cardite, hipertensão arterial sistêmica, miocardite de etiologia indeterminada e uso de marcapasso devido a episódios de taquicardia ventricular. Como se manteve sintomática (CF IV NYHA) apesar do tratamento otimizado para insuficiência cardíaca, foi submetida, aos 43 anos, a transplante cardíaco bicaval e pulmonar. No pós-operatório apresentou rejeição aguda com boa resposta à corticoterapia. Aos 49 anos foi diagnosticada com neoplasia maligna de mama, sendo submetida a mastectomia parcial. Aos 61 anos apresentou angina instável (AI) tratada com intervenção coronariana percutânea (ICP) com stent para artéria descendente anterior (ADA). Após 4 anos houve recorrência do quadro, novamente com ICP para ADA, durante a qual sofreu infarto agudo do miocárdio tipo 4A, sendo necessária ICP com stent para artéria coronária direita. Evoluiu com insuficiência renal crônica por toxicidade aos imunossupressores, com necessidade de hemodiálise e transplante renal. No pósoperatório apresentou nova AI, com diagnóstico de coronariopatia multiarterial, tratada desta vez, com cirurgia de revascularização miocárdica. Após o tratamento das infecções oportunistas, recebeu alta, mantendo boa funcionalidade dos enxertos e assintomática em seguimento clínico ambulatorial. CONCLUSÃO: As complicações pós-transplante são frequentes e podem coexistir como diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial e doença renal crônica, e contribuem para o surgimento da doença arterial coronariana, sendo esse diagnóstico retardado devido à desnervação cardíaca. Neoplasias e infecções são frequentes pelo uso contínuo de regimes intensos de imunossupressão. Internações por doença renal descompensada e procedimentos cirúrgicos podem favorecer a rejeição do enxerto. Como foi evidenciado no caso relatado, vigilância, diagnóstico precoce e tratamento adequado dos diferentes tipos de complicação tem contribuído para o aumento da sobrevida desses pacientes em curto e longo prazo.