RESUMO
Na hanseníase, o fracasso na conclusão do esquema terapêutico da poliquimioterapia (PQT) é um dos motivos pela ocorrência de falhas terapêuticas, contribuindo para a transmissão continuada do bacilo, desenvolvimento de resistência aos medicamentos e necessidade de retratamento. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar os componentes psicossociais dos pacientes submetidos a um ou mais tratamentos da PQT. Estudo de natureza qualitativa, realizado em Bauru, São Paulo, com 11 pacientes, por meio de entrevistas semiestruturadas: três sem retratamento e oito com retratamento. A interpretação dos dados foi realizada a partir das árvores de associação, derivada da análise de conteúdo de Bardin. Foram definidos cinco eixos temáticos: estigma social, autoestigma, relações interpessoais, atividade profissional, cuidados do paciente com a saúde e falhas na assistência profissional ao paciente. Os resultados indicaram que, apesar dos pacientes relatarem experiências de discriminação social, baixa autoestima, medo da rejeição e necessidade de sigilo do diagnóstico, os familiares funcionavam como rede de apoio. No trabalho, houve maior ocorrência de afastamentos, exonerações e benefícios trabalhistas. Falhas na assistência profissional e alguns cuidados do paciente com a saúde podem se constituírem fatores que contribuem para a necessidade de retratamento da PQT. A investigação desses componentes psicossociais pode fornecer subsídios para o planejamento das ações educativas dos profissionais de saúde a fim de evitar o retratamento da PQT, reduzir as falhas terapêuticas e favorecer à adesão ao tratamento.