RESUMO
Introdução: O monitoramento neurofisiológico intraoperatório (MNIO) é uma técnica valiosa, empregada durante procedimentos neurocirúrgicos complexos. Ao monitorar continuamente as vias neurais, o MNIO fornece feedback em tempo real aos cirurgiões durante o procedimento, permitindo tomada de decisões críticas e redução do risco de déficits neurológicos. O papel do anestesiologista na identificação e correção dos fatores de risco modificáveis é fundamental para a prevenção de lesões neurológicas e otimização dos resultados. Sendo assim, a compreensão das limitações do MNIO e das evidências que orientam seu uso é de fundamental importância. Objetivo: Descrever o manejo de uma anestesia multimodal, realizada em conjunto com a equipe de neurofisiologia, para ressecção de um tumor cerebral recidivante e o seu desfecho clinico. Método: Trata-se de relato de caso atendido no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. Os dados para realização deste trabalho foram coletados durante a cirurgia, sendo a coleta autorizada pelo paciente por meio da assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido. Relato do Caso: Paciente, sexo masculino, 64 anos, ASA II, hipertenso, com história prévia de meningioma atípico, submetido a neurocirurgia e radioterapia em 2021, em uso de anticonvulsivante oral para profilaxia de crises convulsivas. Apresenta lesão tumoral cerebral recidivante em região frontal bilateral. Após a indução anestésica, foi realizada passagem de acesso venoso central em veia jugular interna direita com auxílio de ultrassonografia, monitoração da pressão arterial invasiva após cateterização de artéria radial direita, sondagem vesical de demora, termômetro esofágico, otimização do posicionamento na mesa cirúrgica, índice bispectral e Scalp Block com 20 ml de ropicavaína a 0,375%. Realizou- se manutenção da anestesia com propofol (4-6 mg/kg/h) e remifentanil (0,1 mcg/kg/min) em infusão contínua associado a dexmedetomidina (0,2-0,6 mcg/kg/h) mantendo valores do índice bispectral entre 40-60. As respostas dos potenciais evocados foram obtidas nas extremidades superiores e inferiores durante todo o procedimento pela equipe de neurofisiologia. Durante a manipulação tumoral, foi detectada queda superior a 40% do potencial evocado motor em dimídio corporal esquerdo, e emitido o alerta à equipe cirúrgica. Nenhuma outra intercorrência foi registrada durante o procedimento. Conclusões: Propofol, dexmedetomidina, lidocaína, opioides e anestésicos voláteis potentes de baixa dosagem (menos de 0,5 CAM) associado a técnicas de bloqueios periféricos, fornecem condições compatíveis com monitoramento neurofisiológico intraoperatório. O MNIO contínuo é um complemento indispensável no periÌodo perioperatoÌrio para pacientes com alto risco de desenvolver complicaçoÌes neuroloÌgicas. Os anestesistas devem fornecer um meio fisioloÌgico e anesteÌsico estaÌvel para facilitar a interpretaçaÌo significativa das mudanças de sinal e precisa orientaçaÌo ciruÌrgica. Palavras-chave: Adjuvantes Anestésicos. Potenciais Evocados. Neurocirurgia. Monitorização Neurofisiológica Intraoperatória.