RESUMO
Este trabalho apresenta o processo de ascensão e queda da saúde na política externa brasileira entre os anos de 1995 e 2015, período que compreende dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), dois governos de Lula da Silva (2003-2010) e um governo e meio de Dilma Rousseff (2011-2015), tendo como estudo de caso a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este processo é analisado a partir de duas vertentes: os discursos e ideias defendidas pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio e Organização Mundial da Saúde e a oferta de cooperação técnica na CPLP. A pesquisa utilizou revisão bibliográfica em livros e artigos científicos nas áreas de história da saúde e saúde pública e relações internacionais, pesquisa em documentos em arquivo no Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz e entrevistas com atores que participaram desse processo. Os principais resultados indicam que a participação do Brasil nos primeiros 20 anos da saúde global tem relação com experiências de construção e implementação do SUS e a participação de atores do sanitarismo progressista nacional no Ministério da Saúde. Nesse processo, o país transitou entre defesa do acesso universal aos medicamentos e a defesa do fortalecimento de sistemas de saúde com atenção aos determinantes sociais da saúde, elaborando o conceito de cooperação Sul-Sul estruturante e buscando conformar a diplomacia da saúde sob perspectivas solidárias. No final do período, o desinteresse de Dilma Rousseff pelo soft power, escolhas polêmicas do governo nacional e a falta de sustentação social do projeto contribuíram para o seu declínio
This work presents the rise and fall of health in Brazilian foreign policy between 1995 and 2015, a period that comprises two governments of Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), two governments of Lula da Silva (2003-2010) and a government and a half of Dilma Rousseff (2011-2015), using the Community of Portuguese Speaking Countries (CPLP) as a case study. This process is analyzed from two angles: the speeches and ideas defended by Brazil in the World Trade Organization and World Health Organization and the offer of technical cooperation in the CPLP. The research used a bibliographical review of books and scientific articles in the areas of history of health and public health and international relations, research in documents on file at the Center for International Relations in Health at Fiocruz and interviews with actors who participated in this process. The main results indicate that Brazil's participation in the first 20 years of global health is related to experiences in the construction and implementation of the SUS and the participation of progressive sanitarian actors in the Ministry of Health. In this process, the country moved between the defense of universal access to medicines to the defense of the strengthening of health systems with attention to the social determinants of health, elaborating the concept of structuring South-South cooperation and seeking to conform health diplomacy under solidary perspectives. At the end of the period, Dilma Rousseff's lack of interest in soft power, controversial choices made by the national government and the lack of social support for the project contributed to its decline
Assuntos
Agências Internacionais , Cooperação Internacional , História do Século XIX , História do Século XXRESUMO
The 2030 Agenda - a strategy of the United Nations Organization (UN) to promote global and sustainable human development capable of satisfying basic social needs - is still in the initial stages in most of the countries of South America. The scope of this investigation was to consult a group of health experts on the possibilities of Argentina fulfilling the 2030 Agenda, especially the goals of ODS3 - Health and Wellbeing - when they were consulted on obstacles, challenges, and policy recommendations to meet the goals. The change of management of the government in December 2019, and the outbreak of the Covid-19 pandemic in 2020, broadened the investigation incorporating the analysis of the incumbent Minister of Health of the Nation on the 2030 Agenda, the study carried out and the current perspectives in the pandemic period. The results were analyzed from a comparative standpoint with a Brazilian study, which revealed that most experts agree on the country's potential to meet the goals of the 2030 Agenda. However, in the analysis of the new Minister of Health, there are "the paradoxes of the pandemic" that relate to the opportunity to empower the health system pursuant to the Covid-19 pandemic.
La Agenda 2030, una estrategia de la Organización de las Naciones Unidas (ONU) para promover un desarrollo humano global y sostenible capaz de satisfacer necesidades sociales básicas, aún se encuentra en sus etapas iniciales en la mayoría de los países de América del Sur. La presente investigación tuvo como objetivo consultar a un grupo de expertos en salud sobre las posibilidades de Argentina de cumplir con la Agenda 2030, en especial las metas del ODS3-Salud y Bienestar-, a su vez que se les consultó sobre los obstáculos, desafíos y recomendaciones de políticas para cumplir con las metas. El cambio de gestión del gobierno en diciembre de 2019, y el surgimiento de la pandemia COVID19 en el presente año, amplió la investigación incorporando el análisis del actual Ministro de Salud de la Nación sobre la Agenda 2030, el estudio realizado y las perspectivas actuales en el periodo de la pandemia. Los resultados fueron analizados en perspectiva comparada con un estudio brasilero, y mostraron que la mayoría de los expertos coincide en el bajo potencial del país para cumplir con las metas de la Agenda 2030. Sin embargo en el análisis del nuevo Ministro de salud surgen "las paradojas de la pandemia" que refieren a la oportunidad de fortalecer el sistema sanitario producto de la pandemia COVID-19.
Assuntos
COVID-19 , Pandemias , Argentina/epidemiologia , Brasil/epidemiologia , Humanos , Pandemias/prevenção & controle , Percepção , SARS-CoV-2RESUMO
Resumen La Agenda 2030, una estrategia de la Organización de las Naciones Unidas (ONU) para promover un desarrollo humano global y sostenible capaz de satisfacer necesidades sociales básicas, aún se encuentra en sus etapas iniciales en la mayoría de los países de América del Sur. La presente investigación tuvo como objetivo consultar a un grupo de expertos en salud sobre las posibilidades de Argentina de cumplir con la Agenda 2030, en especial las metas del ODS3-Salud y Bienestar-, a su vez que se les consultó sobre los obstáculos, desafíos y recomendaciones de políticas para cumplir con las metas. El cambio de gestión del gobierno en diciembre de 2019, y el surgimiento de la pandemia COVID19 en el presente año, amplió la investigación incorporando el análisis del actual Ministro de Salud de la Nación sobre la Agenda 2030, el estudio realizado y las perspectivas actuales en el periodo de la pandemia. Los resultados fueron analizados en perspectiva comparada con un estudio brasilero, y mostraron que la mayoría de los expertos coincide en el bajo potencial del país para cumplir con las metas de la Agenda 2030. Sin embargo en el análisis del nuevo Ministro de salud surgen "las paradojas de la pandemia" que refieren a la oportunidad de fortalecer el sistema sanitario producto de la pandemia COVID-19.
Abstract The 2030 Agenda - a strategy of the United Nations Organization (UN) to promote global and sustainable human development capable of satisfying basic social needs - is still in the initial stages in most of the countries of South America. The scope of this investigation was to consult a group of health experts on the possibilities of Argentina fulfilling the 2030 Agenda, especially the goals of ODS3 - Health and Wellbeing - when they were consulted on obstacles, challenges, and policy recommendations to meet the goals. The change of management of the government in December 2019, and the outbreak of the Covid-19 pandemic in 2020, broadened the investigation incorporating the analysis of the incumbent Minister of Health of the Nation on the 2030 Agenda, the study carried out and the current perspectives in the pandemic period. The results were analyzed from a comparative standpoint with a Brazilian study, which revealed that most experts agree on the country's potential to meet the goals of the 2030 Agenda. However, in the analysis of the new Minister of Health, there are "the paradoxes of the pandemic" that relate to the opportunity to empower the health system pursuant to the Covid-19 pandemic.
Assuntos
Humanos , Pandemias/prevenção & controle , COVID-19 , Percepção , Argentina/epidemiologia , Brasil/epidemiologia , SARS-CoV-2RESUMO
Na América Latina, o desenvolvimento de Escolas de Saúde Pública (ESPs), desde a primeira metade do século XX, está historicamente relacionado à cooperação internacional (CI) e à influência norte-americana na região, sobretudo da Fundação Rockfeller, prevalecendo a perspectiva biomédica na organização da saúde pública em nível regional. Entretanto, desde a sua consolidação nos anos 1960, a ENSP foi influenciada pelos preceitos da Medicina Social. Na década de 1970, a influência do movimento da medicina social latino-americana, a articulações de profissionais em nível regional e internacional, novos atores e projetos reunidos na ENSP contribuíram para o fortalecimento dessa característica, que alicerçou o desenvolvimento institucional da Escola. Na década seguinte, final dos anos 1970 e anos 1980, esse alinhamento foi confirmado pelo protagonismo da ENSP no avanço do Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira, contribuindo de forma relevante para a elaboração do conceito de Saúde Coletiva, que embasou as atividades e ações do movimento reformista, assim como para a aprovação da reforma da saúde na nova Constituição brasileira de 1988 e, posteriormente (nos anos 1990), para a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa dinâmica no Brasil foi praticamente antagônica ao observado na América Latina no mesmo período, quando a maioria dos países realizou reformas baseadas em princípios neoliberais. Nos anos 1990, a ENSP se beneficiou da cooperação internacional acadêmica, científica e tecnológica, ampliando a articulação com instituições de ensino e pesquisa no exterior. Nos anos 2000, a priorização da saúde na agenda da Política Externa Brasileira (PEB) estimulou uma nova atuação da ENSP (e da Fiocruz) na Cooperação Internacional em Saúde (CIS), que se caracterizou pelo privilegiamento das relações Sul-Sul. Esse processo inaugurou uma nova forma de relação da Fiocruz (e da ENSP) com a cooperação internacional brasileira em saúde, onde a instituição figurou como ponto focal da PEB nesse campo. Os projetos de CIS, organizados institucionalmente a partir de então, passaram a coexistir com a cooperação internacional acadêmica tradicional, isto é, advinda das relações profissionais entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Essas duas vertentes, embora paralelas e com trajetórias particulares, guardam relações entre si, embora uma não derive da outra. Os projetos de CSS realizados pela Escola se alinham à proposta "alternativa" da cooperação internacional brasileira, denominada "cooperação estruturante em saúde". Apesar do pouco tempo de desenvolvimento dos projetos institucionais e de certo alinhamento com a PEB e a política institucional da Fiocruz nessa área, os dados disponíveis analisados evidenciam essa mudança, mas são insuficientes para uma melhor avaliação dos resultados dessa nova política da ENSP para a CI. Seria oportuna uma melhor organização dos bancos de dados coletados na ENSP/Fiocruz sobre o tema, seja em relação ao processo de trabalho institucional ou da atuação política da ENSP no campo internacional, possibilitando análises mais refinadas.
In Latin America, the development of Schools of Public Health (SPHs) since the first half of the 20th century is historically connected with international cooperation (IC) and United States influence in the region, particularly through the Rockefeller Foundation. In this process, the biomedical perspective predominated in the organisation of public health regionally. Nonetheless, Brazil's National School of Public Health (ENSP), since it was established in the 1960s, has been influenced by the principles of Social Medicine. In the 1970s, the influence of the Latin American social medicine movement, relations among health professionals regionally and internationally, new actors and projects concentrated in the ENSP all contributed to strengthening this characteristic underpinning the school's institutional development. Over the following decade, from the late 1970sthrough the 1980s, this alignment was confirmed by the ENSP's leading role in advancing the Brazilian Health Sector Reform Movement: it contributed significantly to development of the concept of Collective Health underlying the reform movement's activities and actions, as well as to approval of the health sector reform in Brazil's 1988 Constitution and, subsequently, in the 1990s, to implementation of the Unified Health System (Sistema Único de Saúde, SUS). This dynamic in Brazil went against the tide of what was seen in Latin America in the same period, when most countries carried out reforms grounded in neoliberal principles. In the 1990s, the ENSP benefited from international academic, scientific and technological cooperation, and expanded its interrelations with teaching and research institutions abroad. In the 2000s, the priority given to health on Brazil's Foreign Policy (BFP) agenda prompted new actions by the ENSP (and the Oswaldo Cruz Foundation, FIOCRUZ), prioritising South-South relations in International Cooperation in Health (SSICH). That process ushered in a new kind of relationship between the FIOCRUZ (and ENSP) and Brazil's international cooperation in health, with the FIOCRUZ constituting the focal point for BFP in this field. The IHC projects, thereafter organised institutionally, came to coexist with traditional academic IC, that is, cooperation stemming from professional relations between researchers in Brazil and abroad. These two trends although parallel and with their own particular trajectories, are interrelated, although one does not derive from the other. The SSICH projects carried out by the ENSP align with the "alternative" proposal of Brazilian's "structural cooperation in health". Despite the short time that these institutional projects have been operating and certain alignment with BFP and FIOCRUZ policy in this area, the available data examined do attest to this change, but are insufficient for any thorough assessment of outcomes of this new policy of the ENSP's towards IC. It would appear to be a good time to organise better the ENSP/FIOCRUZ databases, as regards both the process of the ENSP's institutional work and its political action in the international field, so as to facilitate more refined analyses.
Assuntos
Gestão de Recursos Humanos , Cooperação Técnica , Cooperação Internacional , Medicina Social , Saúde Global , Cooperação Sul-SulRESUMO
Na América Latina, o desenvolvimento de Escolas de Saúde Pública (ESPs), desde a primeira metade do século XX, está historicamente relacionado à cooperação internacional (CI) e à influência norte-americana na região, sobretudo da Fundação Rockfeller, prevalecendo a perspectiva biomédica na organização da saúde pública em nível regional. Entretanto, desde a sua consolidação nos anos1960, a ENSP foi influenciada pelos preceitos da Medicina Social. Na década de 1970, a influência do movimento da medicina social latino-americana, a articulações de profissionais em nível regional e internacional, novos atores e projetos reunidos na ENSP contribuíram para o fortalecimento dessa característica, que alicerçou o desenvolvimento institucional da Escola. Na década seguinte, final dos anos 1970 e anos 1980, esse alinhamento foi confirmado pelo protagonismo da ENSP no avanço do Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira, contribuindo de forma relevante para a elaboração do conceito de Saúde Coletiva, que embasou as atividades e ações do movimento reformista, assim como para a aprovação da reforma da saúde na nova Constituição brasileira de 1988 e, posteriormente (nos anos 1990), para a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa dinâmica no Brasil foi praticamente antagônica ao observado na América Latina no mesmo período, quando a maioria dos países realizou reformas baseadas em princípios neoliberais...
In Latin America, the development of Schools of Public Health (SPHs) since the first half ofthe 20th century is historically connected with international cooperation (IC) and United States influence in the region, particularly through the Rockefeller Foundation. In this process, the biomedical perspective predominated in the organisation of public health regionally. Nonetheless, Brazils National School of Public Health (ENSP), since it was established in the 1960s, has been influenced by the principles of Social Medicine. In the 1970s, the influence of the Latin American social medicine movement, relations among health professionals regionally and internationally, new actors and projects concentrated in the ENSP all contributed to streng thening this characteristic underpinning the schools institutional development. Over the following decade, from the late 1970 sthrough the 1980s, this alignment was confirmed by the ENSPs leading role in advancing the Brazilian Health Sector Reform Movement: it contributed significantly to development of the conceptof Collective Health underlying the reform movements activities and actions, as well as to approvalof the health sector reform in Brazils 1988 Constitution and, subsequently, in the 1990s, to implementation of the Unified Health System (Sistema Único de Saúde, SUS). This dynamic in Brazilwent against the tide of what was seen in Latin America in the same period, when most countries carried out reforms grounded in neoliberal principles...