RESUMEN
Resumo Discute-se a construção de dispositivos para produção de atenção psicossocial, que são baseados na proposta de Gestão Autônoma da Medicação em Unidades Básicas de Saúde em São Paulo, onde foram constituídos grupos com base em cogestão e compartilhamento de experiências, formados por usuários de medicação psiquiátrica. Os trabalhadores moderaram esses grupos e participaram de oficinas de apoio semanais durante 15 meses. Este processo deu visibilidade a uma condição problemática complexa na qual se conjugam a crescente prescrição maciça de drogas psiquiátricas ao longo dos anos na atenção básica e a concentração da responsabilidade sanitária em saúde mental nos serviços de atenção especializada. A construção destes dispositivos permitiu uma produção comum de cuidado e de apoio fora do campo da medicalização, que desestabilizou barreiras à autonomia, postas pela verticalidade das práticas das equipes de saúde, pelas relações de dominação dos trabalhadores sobre os usuários e pelas relações de poder construídas em torno do saber especializado. O campo comum estabelecido por usuários e trabalhadores nestes processos coletivos tem ampliado a noção de apoio presente no campo da saúde pública brasileira.
Abstract This study discusses the construction of devices for the production of psychosocial care, which are based on the proposal of Gaining Autonomy & Medication Management in Primary Health Units in São Paulo, where groups were formed based on co-management and sharing of experiences, formed by psychiatric medication users. Workers moderated these groups and attended weekly support workshops for 15 months. This process has given visibility to a complex problematic condition in which the increasing mass prescription of psychiatric drugs over the years in primary care and the concentration of health responsibility on mental health in specialized care services are combined. The construction of these devices allowed a common production of care and support outside the field of medicalization, which destabilized barriers to autonomy, posed by the verticality of health team practices, the workers' domination relations over users and the power relations built around specialized knowledge. The common ground established by users and workers in these collective processes has broadened the notion of support in the Brazilian public health field.
Asunto(s)
Humanos , Masculino , Femenino , Atención Primaria de Salud , Psiquiatría , Centros de Salud , Salud Mental , Autonomía Personal , MedicalizaciónRESUMEN
Autonomous Medication Management (GAM) is an innovative approach developed in partnership with medication users. It takes their subjective experience into account and strives to place the individual at the center of pharmacological treatment in psychiatry with a view to improving well-being and quality of life. It creates spaces of open dialogue on the issue of medication amongst users, physicians and their family and friends. This article is derived from a research study and presents the principles, practices and main impacts of GAM on how people relate to their medications and the physicians who prescribe them. The major positive effects were the users' clearer understanding of their experience of taking psychiatric medication and their rights, the reduction or elimination of sudden and unsupervised treatment interruptions and the users' sense of having more control over their treatment. It includes inner experience and life, an improved relationship with professionals and space for negotiation with the physician and, lastly, changes to prescriptions that significantly improved well-being and recovery. The distinguishing features of GAM are described and compared with other approaches, giving a voice to people who take medication.
A Gestão Autônoma da Medicação (GAM) é uma abordagem inovadora desenvolvida em parceria com usuários que fazem uso de medicação, considerando sua experiência subjetiva, se esforçando para colocar a pessoa no centro do tratamento farmacológico psiquiátrico, visando uma melhora no bem-estar e na qualidade de vida, criando oportunidades de expressão, diálogo e apoio entre as pessoas, os profissionais e seus próximos. Este artigo, resulta de uma pesquisa que apresenta os princípios, as práticas e os principais impactos da GAM no modo como as pessoas se relacionam com seus medicamentos e com os médicos que as prescrevem. Entre os principais efeitos observados, encontramos uma melhor compreensão da experiência, de seus direitos e do tratamento farmacológico; uma redução, ou eliminação das interrupções súbitas de tratamento e sem acompanhamento; uma percepção de maior controle sobre seu tratamento, sua experiência interior e sua vida; uma melhora no relacionamento entre profissionais com espaço para negociação; e mudanças nas prescrições, o que mostrou grande impacto no bem-estar, qualidade de vida na comunidade e restabelecimento (recovery). Características importantes da GAM são também identificadas em outras abordagens, dando voz às pessoas que utilizam medicação.