RESUMEN
INTRODUÇÃO: A morte súbita cardíaca (MSC) corresponde a 5% dos óbitos na população. Até 80% dos casos ocorrem em portadores de doença isquêmica. Na atualidade, o parâmetro utilizado com este fim é a fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE). Nas últimas décadas, parâmetros de repolarização ventricular se mostraram ferramentas úteis na estratificação deste risco em diversas patologias. MÉTODOS: Estudo transversal, que incluiu 177 portadores de doença coronária e foram submetidos a estudo eletrofisiológico (EEF) em um hospital terciário entre 2013-2017, e teve por OBJETIVO: avaliar a associação entre parâmetros eletrocardiográficos de repolarização ventricular e indução de arritmias ventriculares malignas (AVM) nos grupos com FEVE maior e menor do que 35%. RESULTADOS: A amostra apresentou idade média de 65 anos, predomínio do gênero masculino (83,6%) e FEVE média de 37,5%. Em relação a eventos prévios, 76,8% dos pacientes apresentaram síndrome coronária e 16,9%, MSC abortada. AVM foram induzidas em 75 indivíduos (42,4%). Análise multivariada demonstrou que o intervalo QT associou-se ao desfecho, com aumento de 7% na chance de indução de arritmia a cada incremento de 10ms. Em contrapartida, os intervalos QT corrigido e T pico-fim, suas dispersões e a relação QT/T pico-fim não apresentaram tal relação. Curva ROC evidenciou que QT > 452ms possui acurácia de 0,611 (p=0,011) para predizer indução de AVM, com OR=2,7 (p=0,04). No que diz respeito aos indivíduos com FEVE < 35%, análise univariada demonstrou que nenhum dos parâmetros de repolarização ventricular relacionou-se com a indutibilidade arrítmica. Quando avaliadas conjuntamente as variáveis FEVE e intervalo QT, utilizando o ponto de corte de 452 ms, verificou-se que o prolongamento do parâmetro eletrocardiográfico associado à disfunção ventricular importante aumentou o risco do desfecho (p=0,0003) e, em análise multivariada, apresentou OR=5,44 (p=0,0004). No tangente aos pacientes com FEVE = 35%, a dispersão do QT foi significativamente maior naqueles com indução de arritmia; tal associação não foi verificada nas demais variáveis. A curva ROC demonstrou que valores > 20ms obtiveram acurácia de 0,638 na predição do desfecho. CONCLUSÃO: O intervalo QT relaciona-se à indução de AVM durante EEF em pacientes portadores de doença coronária, e valores acima 452 ms demonstraram moderada capacidade preditiva para este desfecho, especialmente quando associado a FEVE < 35%. A dispersão do QT foi um fator de risco com acurácia intermediária para predição naqueles com FEVE = 35%.
Asunto(s)
Arritmias Cardíacas , Síndrome de QT Prolongado , ElectrofisiologíaRESUMEN
INTRODUÇÃO A morte súbita cardíaca (MSC) corresponde a 5% dos óbitos na população geral e sua predição representa um desafio na prática clínica. Até 80% dos casos de MSC ocorrem em portadores de doença isquêmica. Na atualidade, o parâmetro utiliza do com este propósito é a fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE), a qual possui sensibilidade limitada, já que a maioria dos casos de MSC ocorre em pacientes sem disfunção significativa. Nas últimas décadas, parâmetros de repolarização ventricular se mostraram ferramentas úteis na estratificação do risco de morte em diversas patologias, entretanto as evidências sobre suas capacidades preditivas são controversas na literatura. Objetivo e métodos Estudo transversal, que incluiu 177 portadores de doença arterial coronária e foram submetidos a estudo eletrofisiológico (EEF) em um hospital terciário entre 2013 e 2017, e teve por objetivo avaliar a associação entre parâmetros eletrocardiográficos de repolarização ventricular e indução de arritmias ventriculares malignas (AVM) durante estimulação elétrica programada nos grupos com e sem evento coronário prévio. Resultados A amostra em estudo apresentou idade média de 65 anos, predomínio de indivíduos do gênero masculino (83,6%) e FEVE média de 37,5%. Em relação a eventos clínicos prévios, 76,8% dos pacientes já apresentaram síndrome coronária e 16,9%, MSC abortada. AVM foram induzidas em 75 indivíduos (42,4%) durante o procedimento. Análise multivariada demonstrou que o intervalo QT medido associou-se a este desfecho (p=0,013). Em contrapartida, os intervalos QT corrigido e T pico-fim, suas dispersões e a relação QT/T pico-fim não apresentaram tal relação. Ajuste da curva ROC evidenciou que um QT > 432 ms possui acurácia de 0,628 (p=0,009) para predizer indução de AVM durante EEF em portadores de síndrome coronária prévia. No que tange aos pacientes que não apresentaram evento anteriormente, nenhum dos parâmetros avaliados demonstrou associação com o desfecho. Conclusão O intervalo QT medido relaciona-se à indução de AVM durante EEF em pacientes portadores de doença arterial coronária com evento agudo prévio, e valores acima 432 ms demonstraram moderada capacidade preditiva para este desfecho.