RESUMEN
APRESENTAÇÃO DO CASO: Paciente do sexo masculino, 69 anos, fumante, sem outras comorbidades, agricultor, consulta por dispnéia. Ao exame físico na admissão apresenta sinais de insuficiência cardíaca direita. Foi realizado ecocardiograma com evidência de massa adjacente ao ventrículo direito (VD), causando compressão com diminuição a distensibilidade do VD, com áreas de intensa calcificação pericárdica de distribuição desigual e padrão hemodinâmico de constrição. Nega antecedentes de tuberculose, radioterapia de tórax ou cirurgia cardíaca prévia. Realizada TC de tórax com contraste, evidenciando calcificações pericárdicas, com imagem de "pseudotumor" adjacente a VD de contorno irregular, calcificação intensa e conteúdo heterogêneo. O paciente foi submetido a pericardectomia e ressecção do tumor, com achado de intensa calcificação e coágulos remanescentes em seu interior. Interrogado especificamente sobre antecedente de trauma torácico, ao que o paciente respondeu ter sofrido uma pancada por cabeça de bovino, 10 anos antes do início dos sintomas. Descartou-se contato com Mycobacterium tuberculosis, tireoidopatias e neoplasias. Em ausência de outra explicação que justificasse os achados, foi assumida como etiologia pericardite constritiva secundária a hemopericárdico por contusão cardíaca. DISCUSSÃO: As causas mais comuns de pericardite constritiva incluem tuberculose, colagenoses, uremia, febre reumática, radioterapia, neoplasias. Existem pouquíssimos relatos na literatura relacionando pericardite constritiva a trauma torácico fechado, a maioria das associações são com o trauma da pericardiectomia durante uma cirurgia cardíaca. Chama a atenção a intensa calcificação pericárdica com efeito de massa compressiva adjacente ao VD e a localização heterogênea das calcificações nas paredes de VE, podendo corresponder com a distribuição pós-traumática do sangramento. Apesar de ser relatado na literatura que a tuberculose está entre as causas que mais apresentam calcificação visível ao exame radiológico, não há evidências que ligam a alteração a uma etiologia específica. COMENTÁRIOS FINAIS: Pelo perfil da população que atendemos no SUS, devemos abrir o espectro de possibilidades para não nos surpreendermos com motivos inusitados de consulta na população. Não há casos publicados de pericardite pós-traumática, secundária a hemopericárdio pós pancada de bovino. Com a grande quantidade de trabalhadores rurais no Brasil, sua incidência poderia estar sendo subestimada.